[Ricardo Longo]
Minha mulher, a Chri, é uma micro-empresária. Abriu sua empresa há pouco mais de um ano, quando a Dora estava com 1 ano e 3 meses (hoje ela tem 2 anos e meio).
Trata-se do “Lugar de Arte – Atelier Infantil” (www.lugardearte.com.br), um local voltado para o desenvolvimento de crianças por meio da expressão artística. E está indo muito bem.
Além do sonho antigo de ter o próprio negócio, num ramo – educação – que ela domina amplamente e tem prazer em trabalhar, pesou na decisão a idéia de que não sendo funcionária de alguma empresa, ela teria mais liberdade para fazer seus próprios horários e ditar seu próprio ritmo. Desta forma, pensava, teria mais tempo para si, assim como poderia exercer com mais facilidade seus outros papéis, de mãe e esposa.
Nesses 15 meses de existência do Lugar de Arte, tiro para mim dois aprendizados, que tenho a oportunidade de compartilhar com vocês agora:
1. Sim, é verdade que a maior liberdade de horários existe e realmente facilita em alguns momentos – como quando a Dora fica uma semana doente e não há aquele “mal estar com o chefe” por chegar um pouco mais tarde ao trabalho todos os dias e talvez até faltar uma manhã toda. Ou na sexta-feira à tarde, quando é possível decidir ir para a praia logo após o almoço. Além disso, lógico, também é ótimo poder decidir os rumos da sua empresa, sentir a realização de ver o seu próprio negócio crescendo etc.
2. Por outro lado, pude comprovar na prática algo que já sabia na teoria mas não achava ser tão marcante: ser empresária significa trabalhar mais e sob mais pressão do que como funcionária. Trata-se de algo difícil de compreender sem a vivência própria, mas a verdade é que o envolvimento é sempre muito maior.
Mas por que é assim? Tenho algumas suposições:
Penso que, normalmente, quando trabalha-se “para alguém”, a gente faz parte de uma engrenagem, de um sistema que funciona à nossa volta, e as atribuições e responsabilidades são mais bem definidas. Além disso, outra pessoa (não nós mesmos) cria expectativas sobre nós que podemos ou não conseguir alcançar.
Quando se é empresário, além de exercer uma função específica na empresa, a gente é responsável por todas as engrenagens. Somos também responsáveis por criar expectativas sobre nós mesmos e saber dosar a auto-cobrança. E ainda por cima o retorno financeiro não é garantido, portanto o risco é maior.
A Chri, por exemplo, exerce a função “fulltime” de coordenadora pedagógica do Lugar de Arte, mas além disso é também responsável por:
- decisões de investimento e trabalhar para conseguir o retorno
- gestão estratégica do negócio
- aquisição e manutenção de clientes
- gestão de pessoas
- controle de custos
- gerenciamento da imagem da marca
São muitas as noites em que eu a vejo no computador até mais tarde escrevendo relatórios, enviando e-mails, analisando currículos, pesquisando coisas na Internet, acessando o site do banco, fazendo contas, preparando materiais de divulgação, preparando materiais para reuniões com pais ou com suas professoras e por aí vai…
Todos esses fatores, na minha visão, tendem a aumentar muito o sentimento de culpa que normalmente já ronda a cabeça das equilibristas. Sendo empresária, é necessário saber lidar ainda melhor com isso.
Por exemplo, quando a decisão sobre os horários e a rotina de trabalho é sua, estar ausente do marido e dos filhos é responsabilidade própria. Por outro lado, privilegiar a família, ou a si mesma, em detrimento da empresa também aumenta a culpa de não estar se dedicando ao máximo pelo sucesso do negócio.
E o maridão, como se encaixa nessa história?
Do meu lado, tento ajudar o máximo que posso com a empresa e, modéstia à parte, acho que ajudo bastante. Ajudei a construir o site (www.lugardearte.com.br), preparo planilhas financeiras, lido com o contador, dou orientações sobre como lidar com fornecedores, instalo coisas na parede, lido com o empreiteiro que faz as reformas etc. Tudo logicamente no ramo mais “administrativo”, pois no lado pedagógico ela é craque.
Ajudo também com a Dora em momentos em que ela precisa trabalhar fora do horário (fins de semana por exemplo) e tento também fazê-la aceitar melhor o fato de que ser empresária significa mais trabalho e mais responsabilidades.
Finalizando:
Portanto o meu recado para equilibristas que já são empresárias ou que estão pensando em tomar a decisão de abrir um negócio, é:
A escolha pelo papel de empresária deverá ser baseada, logicamente, na oportunidade e viabilidade do negócio e, principalmente, na satisfação profissional e pessoal que um empreendimento próprio pode vir a trazer. E só. Não tenham a ilusão de que isto torna, ou tornará algum dia, a tarefa de equilibrista mais simples. Ao contrário, trata-se de um conjunto extra de pratos para equilibrar.
Não quero que pareça, de forma alguma, que estou desencorajando ninguém a iniciar-se (ou continuar) na condição de empresária. Amo minha mulher também por seu lado profissional; pela sua coragem e capacidade empreendedora.
Apenas convido à reflexão sincera e verdadeira sobre os motivos e expectativas desta possível intenção. Ter um negócio próprio deve ser encarado muito mais como um desafio gratificante e não como um “atalho” para facilitar a Vida de Equilibrista.
OBS – Ricardo é marido da Christina, entrevistada para o assunto Mães Empresárias (veja tags).
Que lindo.!
Eu tbm sou empresária, mas não sou mais e tbm não casada.
Eu acho que empreender é muito mais que ganhar dinheiro (na visão de algumas pessoas)
Empreender é você correr riscos e seguir um sonho.
é mágico voce ter o retorno daquilo que vc acredita (não falo só financeiramente).
Eu sou apaixonada pelo que faço, e não me imagino trabalhando p/ os outros, sendo apenas um numero p/ eles, trabalhar e não se reconhecida.
”tudo que voce deseja quando de coração, o universo conspira”
Boa sorte