Retrato dos pais equilibristas

A revista Época deste final de semana saiu com uma matéria completa e sensível descrevendo a vida de alguns pais equilibristas aqui no Brasil. O ponta pé inicial da reportagem foi um estudo publicado pelo Boston College, universidade de Massachusetts, chamado O novo pai – Explorando a paternidade no contexto da carreira. Em geral, ele concluiu que os homens americanos sofrem mais para atender às cobranças em casa e no escritório.

Além de dar exemplos de pais que se desdobram ou até, como várias equilibristas(me incluo nessa), abriram mão da carreira tradicional e cortaram horas de trabalho para se dedicar aos filhos. Tem o exemplo do “dono de casa”, do pai divorciado, com dois filhos do primeiro casamento e um do segundo, do que largou o emprego como publicitário e foi trabalhar em casa e de outro que trabalha meio período. O bacana são gráficos com porcentagens que contam como eles dividem seu tempo durante o dia, ressaltando que alguns cuidam da casa e fazem comida.

No texto principal, sobressaem os temas que já comentamos por aqui: o jeito como a mulher considera o lado  profissional apenas parte de sua vida, a recente valorização da família pelo homem, o equilíbrio de homens e mulheres no mercado de trabalho (nos EUA elas são 55%, aqui somos 41,4% da mão de obra empregada). Claro, comentaram o número de horas gastas por homens e mulheres no trabalho doméstico (pra mulher sempre sobra bem mais) e a diferença gritante entre licença-maternidade e licença-paternidade.

Mas o mais interessante, a meu ver, são dois pontos que retratam uma dificuldade enfrentada pelas mulheres nessa transformação. Apesar de muito bem sucedidas em suas carreiras, elas não querem abrir mão do poder que têm em casa e, principalmente, com os filhos.  E um reflexo disso é que – incrível, comprovado na pesquisa americana! – elas subestimam a contribuição do marido dentro de casa. Será que também já não vimos este filme antes? Afinal as mulheres também saíram para o mercado de trabalho para se sentirem úteis e valorizadas. Na minha opinião, é o trabalho doméstico e também a dedicação integral ou semi-integral às crianças que andavam desvalorizados e agora vale revertermos este processo.

Vejam, no exemplo abaixo, se o discurso deste pai (copiado da matéria) não é totalmente compatível com o de qualquer equilibrista?

O engenheiro Fernando José Alves da Silva, de 46 anos, não abriu mão de estar com os filhos mesmo depois do fim de seu primeiro casamento, há nove anos. “Não há o que pague a alegria de encontrar meus filhos sorrindo, de curtir alguns momentos com eles”, diz Fernando. Pai de Andrezza, de 13 anos, e de Lucas, de 9, ele detém a guarda compartilhada das crianças e fica com elas semana sim, semana não. Fernando casou-se novamente há três anos e teve seu terceiro filho, Guilherme, hoje com 1 ano. Funcionário de uma refinaria em Duque de Caxias, ele mora na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Trabalha dez horas por dia, mas reserva o fim da tarde e a noite para estar com os filhos. “Quando dá, tento pegar na escola, faço lição de casa junto, levo o filho no futebol, tento brincar com eles, me desdobro ao máximo”, diz Fernando. Como sua rotina é muito pesada, nem sempre ele consegue. Já perdeu eventos na escola dos filhos por causa do trabalho. “Não posso parar de trabalhar, preciso pagar o colégio, as contas, o apartamento, manter o padrão de vida. Então preciso arranjar um jeito de equilibrar as coisas”, afirma Fernando. “É muito difícil combinar trabalho e família. Ficar tranquilo é o mais importante para conseguir conciliar.”

A solução que Fernando encontrou é a melhor saída para fugir de mais uma fonte de estresse. “A carga de cobrança em cima dos pais e da forma que eles cuidam dos filhos é uma barreira. Cada vez mais os pais estão perdidos com tantas recomendações e cobranças”, diz Rosa Macedo, da PUC-SP. “O caminho mais rápido para o descontrole é culpar-se e idealizar a forma de criar os filhos.”

Até mesmo a culpa então, começa a assolá-los… consequência direta dessa vida de equilibrista! Quem quiser ler a reportagem completa, basta acessar Filhos x trabalho. Só pra completar, foi meu marido, que é antenado e, na minha opinião, um ótimo pai equilibrista, quem me enviou o link por e-mail. [Maggi Krause]

Mais pais criando filhos sozinhos

[Olhar de pesquisa]

Pesquisa mostra que percentual de famílias compostas por pais que criam os filhos sozinhos, sem a  presença da mãe, aumentou.

Em 1993 as famílias com essa característica correspondiam a 2,1% do total de famílias. Em 2006, ano da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), o índice foi de 2,7%. O dado faz parte da 3ª edição da pesquisa Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, realizada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), divulgada em setembro de 2008. Apesar de o crescimento parecer tímido, a pesquisadora do Ipea Natália de Oliveira Fontoura considera que ele pode indicar uma tendência de mudança no comportamento da sociedade. “Isso pode indicar uma mudança na percepção social de atividades que historicamente eram consideradas femininas ou masculinas”, explica Natália.
A pesquisa analisou os dados da Pnad com o objetivo de interpretar microdados que não fizeram parte do recorte dado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2006. Além da quantidade de famílias com filhos criados pelo pai, os pesquisadores também observaram a média de horas semanais dedicadas a afazeres domésticos. Nesse caso, apesar de as mulheres ainda dispensarem muito mais tempo a essas atividades que os homens, a diferença entre os dois caiu.
Em 2001, elas cuidavam de tarefas domésticas em média 29 horas por semana, enquanto eles passavam 10,9 horas nesse tipo de trabalho. Já em 2006, a média de horas delas caiu para 24,8, enquanto eles passaram a trabalhar 10 horas.
Entretanto, a pesquisadora do Ipea chama a atenção para o fato de que o tempo dedicado a afazeres domésticos, na realidade, possa ser maior, especialmente para as mulheres. “É que muita gente não contabiliza o tempo de cuidado com as crianças ou idosos, por exemplo, como afazeres domésticos. Isso pode interferir no dado para baixo”, explica a pesquisadora.

fonte: Radiobras, set 2008

Mulheres se perdem nas urgências!

[Christian Barbosa]

Ele é jovem, tem apenas 28 anos, mas abriu sua primeira empresa aos 14, na área de tecnologia! Formado em ciência da computação com ênfase em matemática, mudou sua vida por conta de um problema de saúde. Aos 19 anos, trabalhando de segunda a sexta-feira, caiu gravemente doente e foi aconselhado pelo médico a fazer yoga ou um curso de gestão do tempo. Foi matriculado pela secretária, assistiu ao primeiro curso de um consultor americano e se apaixonou pelo assunto. Estudou em profundidade, se tornou um especialista em gestão do tempo e produtividade pessoal e empresarial e de uma extensa pesquisa lançou o livro A Tríade do Tempo (já vendeu mais de 1 milhão de exemplares!). Ano passado, mais de 5000 mulheres no Brasil todo responderam à pesquisa Mulheres, Problemas e Necessidades de Gestão de Tempo, que dá base ao livro Você, Dona de Seu Tempo (veja em dicas). No final de outubro, Christian falou com o site Vida de Equilibrista (importante: ele também leu o livro da Cecília!!). 

Christian Barbosa: O problema da falta de tempo no universo feminino é realmente assustador, eu nunca tive a intenção de fazer um livro específico para mulheres, mas três editoras fizeram uma pesquisa de mercado e sentiram que era um tema de interesse. Acabamos comprovando na pesquisa com mais de 15 mil pessoas a diferença no uso do tempo entre homens e mulheres. E o livro realmente mudou minha vida e minha percepção sobre o tema.

Vida de Equilibrista: Entre homens e mulheres, quais as diferenças mais salientes no uso do tempo?

CB: Em primeiro lugar, a mulher tem uso do tempo mais focado nas urgências do que os homens. A tríade do tempo é uma trindade de conceitos composta por Importante, ou seja, as coisas de que eu gosto, que tenho tempo para fazer e que sempre me trarão resultados, Urgente, coisas feitas com pressão, estresse, correria, mas que trazem resultado, e Circunstancial,  coisas que não agregam valor, que fazemos sem querer ou por excesso, ou melhor, tempo jogado no lixo. Na pesquisa, constatei que nas mulheres o uso do tempo acontece na seguinte proporção: 30% importante, 40% urgente e 24% circunstancial. Nos homens essa divisão é 27%, 36% e 35%. O ideal é que o importante ocupe mais de 60% da sua agenda e os outros, bem menos.

VDE: O que esta proporção indica, no lado feminino?

CB: Fica claro que a mulher não tem tempo para o circunstancial, mas sempre corre com as coisas urgentes. Isso é causado pelo volume de papéis que ela desempenha. A decorrência disso são problemas de saúde… já se comprovaram aumento do infarto, além de gastrites, úlceras e dores de cabeça. Na pesquisa fui também a salão de beleza, reunião de escola etc. e perguntei às mulheres se elas estavam estressadas. Todas responderam que sim. Além disso, na pesquisa em geral, 61% disse que não consegue equilibrar vida pessoal e profissional. 17% das mulheres gostariam de ter mais tempo para si mesmas e 66% das mulheres admitem a dificuldade de dizer não. Esta é outra característica marcante, para aumentar o tempo com os filhos, família ou trabalho, ela tira tempo de si (o salão, a academia, um curso). O homem não se anula, é mais egoísta no uso do tempo, mas é um egoísmo saudável… o futebol com os amigos é sagrado. Quanto mais tempo gasta consigo, mais energia ele recupera. 

VDE: A maneira como a mulher administra o tempo tem vantagens e desvantagens, você poderia falar sobre isso?

CB: Acho que a única vantagem é que ela é mais multitarefa. Consegue fazer duas ou três coisas ao mesmo tempo. Homem é monotarefa, homem gripado não trabalha… faz uma coisa por vez. Como na urgência elas cumprem aquilo que está gritando mais, isso se reflete em menos tempo para os filhos e o marido. Elas não têm método para administrar o tempo.

VDE: Existem formas de administrar melhor o tempo específicas para as mulheres?

CB: Claro que existem dicas específicas. Se ela precisa ter mais tempo para os filhos e o marido, deve ter uma conversa em família para criar uma rotina, um planejamento. Também precisa entrar em acordo com seu biorritmo, que é mais flutuante. Tem momentos de extrema produtividade e na TPM, quando está menos produtiva, deve programar só 50% de suas atividades, assim consegue cumpri-las.

VDE: Você acredita que é possível a mulher moderna encontrar  o equilíbrio?

CB: A gestão de tempo é uma ciência, ela funciona. Se não funcionar, é porque ela está aplicando as técnicas de forma errada. O resultado é muito positivo, mas não é para todas. Existem 4 tipos de perfis na gestão de tempo entre mulheres: a Mulher maravilha,  que está sempre correndo para dar conta e gosta disso, a Supernanny, que delega tudo o que for possível para terceiros, a Perfeccionista, que se adequa melhor às técnicas de gestão de tempo e a Espontânea, que detesta regras e acaba sendo mal sucedida na administração do tempo. 

VDE: Na pesquisa realizada, qual a maior queixa das mulheres?

CB: Da falta de tempo para elas. “Não tenho tempo para fazer tudo o que quero, não tenho tempo pra mim.” Só 42% das mulheres acham que estão evoluindo, o restante está apenas agindo e isso é muito ruim. Dessa forma ela anula seus sonhos e objetivos, e ainda admite que se fosse reduzir algo, seria trabalho e carreira.

VDE: Você administra o tempo em família?

CB: Sou casado e tenho dois filhos, de 9 e 2 anos.  Consigo ter um bom equilíbrio familiar, pois aplico tudo o que eu estudei. Não acredito em atores, que falam e não fazem. Se eu não tiver tempo para mim, paro de dar consultoria na área. Minha mulher é psicóloga e às vezes me pede para ajudá-la a planejar a semana. Nós também fazemos planejamento junto com as crianças. Ano passado estabelecemos a meta de ir para a Disney em 2008, que foi cumprida este ano.

VDE: Tem alguma dica para aumentar o tempo de convívio com os filhos?

CB: Não acredito naquele mote de que qualidade é melhor do que quantidade, quando você se importa com alguém, sempre vai querer quantidade. Mas eu defendo a periodicidade. Isso significa constantemente reservar um tempo para momentos de qualidade, independentemente da quantidade. Por exemplo, estipule que todo dia, ao chegar do trabalho, após jantar tirará 20 minutos para ficar com seus filhos de verdade, isso significa desligar a TV, tirar as preocupações da cabeça e se focar em ouvir, brincar, ler, desenhar, ajudar na lição de casa. Descubra algo que você gosta de fazer em conjunto com eles, isso tornará esse tempo ainda mais agradável. Nos sábados e domingos, aumente a dedicação. Mas mantenha a constância, senão um dia vai perceber que se formou um buraco entre você e seus filhos! E isso vale para pai e mãe!

VDE: A tecnologia ajuda ou atrapalha na administração do tempo?

CB: Costumo dizer que ela veio para resolver problemas que você não tinha. Mas depende. Para a mulher tradicional, a tecnologia atrapalha. Para a mista (que lida com papel e tecnologia) vai ajudar e para a high tech… é a praia dela. Defendo no livro que o mais importante não é a ferramenta, e sim o método.

VDE: Como o conceito de Tríade do tempo pode ser útil para as mulheres?

CB: A melhor forma é descobrir sua tríade primeiro. Se você acessar o site   www.triadedotempo.com.br e responder algumas perguntas, vai descobrir qual a sua.

VDE: Fale sobre o personagem “o Equilibrista” que você cita no livro A Tríade do Tempo.

CB: São três composições diferentes nesse livro, o Equilibrista é aquele que se equilibra entre muitas coisas urgentes e circunstanciais, ou seja, é aquela pessoa se sente sugada no final do dia, pois investiu muito tempo em coisas erradas, que não dão resultado.

VDE: Qual sua mensagem para as “Equilibristas”, as mães que trabalham?

CB: Temos que viver nosso tempo com sabedoria, o equilíbrio na verdade está dentro da gente. Vale a pena descobrir o que é importante para você e tentar dedicar mais tempo para isso.

Se você quiser ler mais sobre as idéias de Christian Barbosa, acesse o site www.triadedotempo.com.br e o blog www.maistempo.com.br.

Tempo precioso

[Mães equilibristas]

Ele parece elástico nos depoimentos.  Devido à sobrecarga de tarefas, a mulher se obriga a administrar os minutos para se sentir em controle da agenda. E a atenção que ela dá aos filhos, tira dela mesma… com algumas exceções.

1. Faço “to do lists” no celular: o que comprar na farmácia, o que perguntar para a pediatra (que não é urgente e pode esperar a próxima consulta), que livros quero ler (para lembrar quando passar em uma livraria) etc. 2. Delego as compras básicas de supermercado para minha “secretária”: ela faz a lista, vai no supermercado do bairro, escolhe as coisas, eles entregam e ela guarda tudo. Pra mim, só sobram as compras menores e mais gostosinhas de fazer. 3. Hora do almoço (durante a semana): sempre aproveito para comprar alguma coisa, resolver problemas, etc. 4. Tenho uma “linha direta” com a babá, via torpedo. Se precisa comprar alguma coisa, se acontece alguma coisa durante o dia, fico sabendo rapidamente. 5. Checo meus emails à noite, depois que a Luísa dorme. 6. Não falo no telefone quando estou com a Luísa em casa. E mesmo com “tudo isso” ainda está faltando tempo para mim! Renata, 1 filha, gerente de branding em São Paulo, SP.

“Sou psicóloga clínica, tenho 3 filhos, sou professora e escritora. Tenho, portanto, muitas funções. Além disso, toco em uma banda e faço dança. É sem dúvida o perfil de uma verdadeira equilibrista. Mas o que tenho aprendido nesses anos todos, é que administrar o tempo é, na verdade, mais que isso; é administrar a vida. E não dá para pensar que a vida é um item que cabe numa agenda. É preciso estar constantemente atento e refletindo o “como” se está usando o tempo e onde se está na lista de prioridades da vida. Trabalho e desempenho sem Eros são apenas tarefas. E depois de todas cumpridas, o que sobra? A estratégia é, antes, olhar para o que está sendo equilibrado e para quê.” Sylvia, 3 filhos, psicóloga, professora e escritora. 

“Costumo dizer que não uso relógio. Uso cronômetro!” Secretária do McDonald´s que assistiu a uma palestra da Cecília Troiano!

“Tenho a sorte de ter um trabalho de horários fixos, como professora, que me tomam 24 horas por semana e mais 6 adicionais flexíveis. Deixei em segundo plano a pesquisa científica de forma a ter mais tempo para me dedicar a meus filhos. Tenho muito trabalho a fazer em casa, entretanto. Procuro manter uma rotina fixa, chegando nos mesmos horários em casa e primeiro me preocupando com meus filhos. Quando meus filhos vão dormir às 19/ 19:30 tenho tempo para me dedicar ao meu trabalho propriamente dito. Meu marido ajuda bastante principalmente de manhã e no fim de semana, já que os horários dele não são tão flexíveis quanto os meus. Mesmo assim fico muitas vezes com a sensação de não estar fazendo o melhor possível tanto em termos de dedicação a eles quanto do meu trabalho (pesquisa). É necessário tentar equilibrar o melhor possível a tarefa materna e de trabalho. Isto implica na minha opinião em escolhas por um lado e perdas por outro lado. “Perder tempo” com as crianças é fundamental. Esta fase da vida é maravilhosa e exige amor, carinho e dedicação de fato (isto não significa que é necessário ficar com eles 24 horas por dia, pelo contrário é importante que haja também satisfação pessoal / no trabalho). Não é possível ser exemplar em tudo, mas sim tentar fazer o melhor possível com relação à tarefa materna e de trabalho.” Sonia , 2 filhos, professora universitária  em São Paulo, SP. 

“Minha vida de equilibrista começa às 6:30h da manhã quando reúno a turma (Rafael 3,5 anos e os gêmeos Gabriel e Henrique 7 meses) para levá-los à escola. Como passam o dia todo por lá, levo com eles uma “mudança” (roupas, papinha, leite, etc… pacote completo). Obviamente são várias “viagens” para descarregar o carro. Após deixá-los vou para a academia. Faço um programa de exercícios que não excede 40min, sendo bastante intenso, porém, curto. Vou para o trabalho, também com minha “mudança”, pois levo minhas refeições uma vez que tento não descuidar da minha alimentação. Trabalho contra o relógio o dia todo, minha agenda é bastante pesada. No final da tarde vou buscar meus filhos na escola. Quando chego em casa geralmente ainda tenho que finalizar algumas obrigações do trabalho preparando aulas, palestras ou mesmo trabalhando na minha tese de doutorado. Entre uma atividade e outra brinco com meus filhos. Depois que os coloco para dormir tenho algum (bem pouco) tempo para mim. Após o nascimento dos meus filhos  aprendi o quão precioso é o tempo, não desperdiço sequer 5 minutos com atividades improdutivas. Não assisto a programas que não sejam educativos e qualquer minuto livre eu aproveito para ler um livro. Para otimizar o tempo no trânsito fico escutando meu i-pod que contem alguns audiobooks (e-books) com o objetivo de treinar meu inglês e ao mesmo tempo aprender algo. Posso dizer que certamente a vida de equilibrista me trouxe importantes ganhos, dois em especial são a produtividade e a habilidade de amar incondicionalmente o próximo. Isso eu devo às crianças maravilhosas que são meus filhos.” Ana Paula, 3 filhos, médica de Ribeirão Preto, SP.

“Faço listas, listas e muitas listas. Com margem para imprevistos e ordem de prioridades! E guardo momentos em que só me concentro nas minhas duas pequenas. De modo que tento não misturar duas atividades simultâneas (será possível?). Uma atividade de cada vez, de forma concentrada (nem sempre dá certo, mas a gente tenta). Assim, sou capaz de passar mais de um mês sem depilar as pernas, duas semanas sem fazer unhas e remarcar um exame médico (meu, não delas, claro) três vezes. Por outro lado, vira e mexe sobra uma sábado inteirinho para rolar no quintal com elas (com a unha por fazer e a perna peluda, beleza!). Ordem de prioridade é meu lema. Os últimos ítens da lista, em geral, ficam para amanhã, semana que vem ou nunca. Mas eram os menos importantes mesmo. ”  Juliana, jornalista, dois empregos, duas filhas na creche das 10h às 18h30, uma ajudante doméstica das 10h30 às 20h, um marido gente fina que faz tudo mas chega quase às 20h em casa e trabalha todo sábado. Ah, sim: uma casa em São Paulo com quintal. Fundamental. 

“Eu divido meus horários de almoço em 3 dias almoçando com o marido e dando atenção só pra ele e 2 dias em casa na hora do almoço, para levar a Sofia (4 anos) até a van que vai pra escola e fazer o Bernardo (6 meses) dormir depois disso. À noite, depois que as crianças dormem, cuido de mim e da casa.” Karin, 2 filhos, Angra dos Reis, RJ.

“Procuro ser objetiva nas tarefas e na definição de prioridades. São várias as tarefas: meninas, casa, marido, trabalho e a minha vida pessoal. Dentro dessas obrigações diárias, tenho claro que as meninas são a prioridade número 1, entretanto tenho o trabalho como uma parte importante também. Por isso, no dia anterior procura refazer a agenda na minha cabeça e muitas vezes abrir mão de compromissos ou tarefas para o meu dia não virar uma correria. Um outro ponto importante é fazer o roteiro do dia, uma vez que o trânsito é uma variável determinante nos dias de hoje. O que também me ajuda muito é ter o outlook atualizado com os compromissos, e deixar sempre uma hora entre um compromisso e outro. Para driblar alguns imprevistos conto muito com as minhas irmãs que me ajudam muito, e todos têm os meus telefones para emergências.” Luciana, duas filhas, São Paulo, SP.

“Acordo todos os dias às 6:15, levo uma das minhas filhas na escola e vou para o trabalho. Quando posso, volto mais cedo nos dias que as crianças dormem na minha casa, faço a feira nas quintas bem cedo e vou ao sacolão na sexta.No sábado às 6:00 faço a meditação em grupo que eu adoro e no domingo pela manhã, gosto de ir ao culto e ouvir música no museu.Procuro aproveitar os intervalos livres no consultório  para estudar, nadar 2x por semana,fazer algum trabalho artístico/manual e quando consigo toco violão.Participo de um coral quinzenalmente e mensalmente participo de um círculo de mulheres aos sábados pela manhã.Quando tudo vai bem essa é a minha rotina mas, quando algum dos filhos fica doente…aí o bicho pega e acabo suspendendo tudo até que a rotina possa ser restabelecida.” Ana, 4 filhos, terapeuta em São Paulo, SP.
“Estabelecer prioridades: ensinando minha filha de 4 anos a fazer escolhas logo cedo. Mostrando que estas escolhas poderão refletir no futuro.E tentar fazer tudo com alegria, sem stress por mais que o dia a dia não ajude!” Adriana, 1 filha, assistente executiva em São Paulo, SP.

“Pra mim, a agenda do outlook é fundamental. Tento colocar os compromissos (todos) na agenda: consulta médica, aula, reuniões, aniversários, pagamento de contas, alguma outra tarefa especial e etc. No dia-dia da empresa, ao ler os e-mails, os que já estão resolvidos, movo para uma pasta específica, os q não estão permanecem na caixa de entrada. Em seguida, vou despachando-os e resolvendo-os por prioridade.Ultimamente, tenho tentado fazer home-office pelo menos uma vez por semana. Isso me garante um pouco mais de foco e concentração. Tenho menos interrupções.” Claudia, coordenadora de empresa de tecnologia em São Paulo, SP.

“Fazer logo as tarefas chatas, porém indispensáveis. Delegar pra quem confio. Não perder tempo com coisas que não trarão resultados concretos seja no curto, médio ou longo prazos. Isso serve tanto pra trabalho como para lazer, descanso (que tem enorme retorno!) e coisas do dia a dia. Faço listas de “to do”s semanais. Me ajudam a priorizar e é ótimo qdo chega o fim da semana e vc vê o quanto conseguiu “riscar” da sua lista!” Andrea, São Paulo, SP.

“Como o tempo está cada vez mais valioso, antes de qualquer coisa, eu penso em quais são minhas prioridades. Não só com relação às atividades do dia-a-dia, mas com relação a minha vida. Percebi que seria incoerente dedicar a maior parte do meu tempo ao trabalho se ele não é a coisa mais importante pra mim. Não tanto quanto cuidar de mim, curtir a casa e ficar com a minha família. Não pense que com isso não me realizo profissionalmente. A vantagem é que trabalho em casa e posso eu mesma administrar o meu tempo. Também não ganho rios de dinheiro e nem é minha pretensão ficar rica. Sigo a máxima “ter menos e viver mais”. Para administrar o tempo no dia-a-dia, sempre coloco no papel os afazeres do dia. A luta é tentar riscar todos os itens da lista. Às vezes consigo, quando não me distraio com outras coisas. Pela manhã, trabalho em casa no computador e quando tenho algo para fazer fora, deixo para a parte da tarde. Meus horários são bem flexíveis (sou jornalista e fotógrafa free lancer), há dias em que não tenho muito trabalho aí aproveito para ficar com a Maria Luisa. Mas todo santo dia, depois das 18h, começa meu expediente integral com ela. Até a hora de ela dormir. Daí aproveito para conversar com o marido, namorar um pouquinho, assistir TV, ler uma revista ou livro da pilha que só se acumula, ler os últimos e-mails e depois, cama.”  Alessandra, 1 filha, jornalista e fotógrafa em Curitiba, PR.  

“Administrar o tempo, hoje em dia, é uma arte! Todos os dias levo o Matheus para a escola, pois acho importante pelo menos um contato por dia com a escola, o que é muito proveitoso. Geralmente é neste momento que escutamos sobre o que se passa na escola e, se for o caso, depois buscar mais informações a respeito e analisar o andamento da educação do meu filho. Uma estratégia que uso é de o Matheus voltar com o transporte escolar pra casa. Se algum dia fico mais enrolada, peço também para levá-lo para a escola. Outra maneira de conseguir driblar o tempo escasso, é deixá-lo na escola no extensivo – o que faz o tempo render – faço durante o dia tudo o que não dá pra fazer com o Matheus por perto e quando ele chega, me dedico a ele com mais qualidade.” Fernanda, 1 filho, autônoma em São Paulo, SP.

“Bem, minha administração nem sempre funciona como o planejado. Portanto, acho que a regra número um é não ser tão rígida com fórmulas e agendas, porque para uma “administração com bom senso” é preciso muito jogo de cintura para fazer adaptações de última hora. Como sou jornalista autônoma, posso muitas vezes organizar meus horários para estar com eles e compensar no trabalho à noite, se for necessário. Em geral, as manhãs, bem cedo, são para mim. Ginástica ou caminhadas, que fazem um bem danado para a cabeça. Depois começa o leva-e-traz de criança para todas as 1001 atividades, uma tarefa compartilhada com meu marido, justiça seja feita. Uma delícia, claro, mas obrigação também. Almoçamos juntos antes de eles irem para a escola e, na parte da tarde, trabalho. Muitas vezes o trabalho tem que começar cedo, a rotina muda, mas essa é a forma que a casa funciona, de um modo geral.” Simone, 2 filhos, jornalista no Rio de Janeiro, RJ.

“Algumas das minhas estratégias: ouvir noticiário na CBN enquanto estou no trânsito de manhã; fazer a unha e massagem na hora do almoço durante a semana; fazer compras de presentes, livros, lembrançinhas e outras coisas pela internet; usar serviço de leva e traz do lava-rápido; pagar todas as contas pela internet; contar com a empregada para fazer a lista do que falta em casa; planejar bem cada dia, principalmente os dias mais fora da rotina; deixar o banho da cachorra agendado com o pet shop de 15 em 15 dias, com serviço leva e traz. E, principalmente, ter pensamento positivo, sempre acho que vai dar tudo certo no final!!!” Elke, 1 filho, gerente de marketing em indústria farmacêutica em Barueri, SP. 

“É assim que eu me vejo, sempre correndo atrás da agenda que não cumpri, da atenção que não dei à minha família como gostaria, dos compromissos aos quais faltei, dos telefonemas que não respondi, da palavra amiga que deixei de dizer na hora certa…hoje, depois de outro hoje, depois de outro ainda mais urgente hoje. E para quê?” Márcia Neder, diretora de redação da revista Claudia, no editorial da edição de outubro.

Dividir é ter tudo!

[Maggi Krause]

O livro Halving It All: How Equally Shared Parenting Works, de Francine M. Deutsch (Cambridge: Harvard University Press, 1999), uma psicóloga acadêmica, explora a tendência de dividir a paternidade relatando a experiência de vários casais que trabalham. Deutsch analisa que a divisão igualitária não só é possível, mas é a uma realidade cada vez mais freqüente.

No livro, a psicóloga entrevista casais que trabalham e conseguem fazer funcionar a ESP (equally shared parenting) e outros que não seguem essa linha (divisão desbalanceada). Ela introduz a noção de “bons pais” em substituição à “boa mãe” ou “bom pai”. Ela dá dicas concretas de como o casal pode seguir arranjos mais igualitários em casa.

“A divisão igualitária existe sem mágica”, comenta Deutsch. “Maridos e mulheres se tornam parceiros juntos, lutando, negociando e construindo ao longo da experiência. A novidade é que a divisão igualitária, mesmo não comum, não é privilégio de uma elite especial. Evitando as agruras de um lar construído em volta da supermulher ou da ex-supermulher, os parceiros na divisão igualitária são pessoas ordinárias inventando e reinventando soluções para os dilemas da vida da família moderna.”

Parece leitura obrigatória para uma equilibrista, não acham? Já encomendamos nossa cópia para a biblioteca das parceiras desse site!

O caminho do meio

[Maggi Krause]

O ThirdPath Institute, fundado por Jessica DeGroot, uma especialista e consultora em assuntos de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, discute um terceiro caminho a ser seguido: antes era preciso escolher entre dedicar-se mais ao trabalho ou à vida familiar; o terceiro caminho seria a integração dos dois.

No site www.thirdpath.org é possível conhecer os fundamentos do instituto, que são principalmente três: redesenhando a família, redesenhando o trabalho e redesenhando a liderança. O objetivo de Jessica é pressionar para que as empresas sejam mais flexíveis, as políticas públicas, mais encorajadoras e as discussões em casa, mais produtivas.

Na seção Redesigning Family, aparece logo Shared Care (ou cuidado partilhado), onde ela defende que a divisão nos cuidados com as crianças incentiva a verdadeira parceria. Leia algumas vantagens apontadas por Jessica:

  • fazer um revezamento nos cuidados com as crianças permite que o parceiro tenha uma folga e possa voltar a cuidar delas revigorado depois.
  • revezar também permite apreciar os prazeres e os desafios desse trabalho e se solidarizar com o parceiro quanto à essa experiência.
  • dividir a paternidade melhora a comunicação e aproxima o casal. A palavra PARCEIRO tem outro significado se as responsabilidades domésticas, de trabalho e com os filhos são divididas.
  • poder dividir as experiências e os estresses de trabalho (fora de casa) também é um benefício (ao contrário de quando um dos cônjuges fica em casa e o outro trabalha).
  • dois adultos irão conhecer e entender em profundidade suas crianças (e não só um dos pais) e também aprender com os erros e experiências do outro.

Equilibrados e engajados

[Maggi Krause]

Host de um site sobre Equally Shared Parenting, www.equallysharedparenting.com, o casal americano Marc e Amy Vachon defende a divisão igualitária como seu hobby. Eles mantêm o site, dão workshops e consultoria a casais sobre o assunto, que inclui repensar suas prioridades se você está em busca de EQUILÍBRIO ao invés de riquezas materiais e realizações.

Ambos optaram por reduzir horas de trabalho e se alternar no cuidado com a casa e com os dois filhos. Segundo eles, equal sharing ou casal igualmente equilibrista, como nós o chamaríamos aqui no site, faz sentido por que:

  • é a nova fronteira do feminismo. Primeiro as mulheres ganharam o direito ao voto… Agora é hora de brindá-las com a igualdade em casa.
  • é um caminho de equilíbrio pra os homens. Nem todos querem que suas carreiras sejam um empecilho para que eles participem significativamente nas vidas dos filhos.
  • é uma vitória dupla para os filhos, que ganham intimidade com ambos os pais.
  • é ótimo para o casamento – incentiva a cumplicidade e a comunicação (e o sexo!).

“Por outro lado, a divisão igualitária exige coragem. Em geral, os homens precisam dar adeus ao prestígio de uma carreira que exige trabalho dobrado e as mulheres precisam deixar o controle que detinham sobre a casa e com os filhos. A divisão igualitária exige compromisso, muita comunicação, flexibilidade e habilidade de negociação”, ensinam Marc e Amy.

Marc e Amy atingiram o equilíbrio entre trabalho, casa, família e diversão. O site deles, http://equallysharedparenting.com, é recheado de dicas para essas quatro áreas da vida. Clique em How it works e ali você lerá os benefícios em cada uma das áreas e receba conselhos (tricks and tips) de como renegociar seu horário de trabalho ou de como criar os filhos em 5 fases distintas da vida. O mais bacana de tudo é o item Making it work for you, que declara que cada casal pode até aproveitar algumas dicas, mas precisa criar sua própria fórmula. É assim também que as equilibristas desse site enxergam a negociação de tarefas no dia-a-dia: não existem receitas prontas, as soluções são particulares de cada casal – isso em todas as áreas da vida!

Injusta divisão

[Maggi Krause]

Colaborar e ajudar em casa e com os filhos, tudo bem. Colocar a mão na massa, realmente, é virtude de poucos homens. A rotina da casa ainda sobra demais para a mulher, mesmo depois da entrada com força total no mercado de trabalho.

Segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE,que tem como base de dados a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2004.:

  • mulheres que trabalham fora dedicam 4 horas e 24 minutos por dia aos afazeres domésticos
  • homens só gastam 2 horas com essa atividade.
  • 35,4 milhões de mulheres estavam ocupadas, dessas, 32,3, milhões também se dedicavam aos serviços domésticos.
  • 91,3 % das brasileiras que trabalham fora dedicam em média 22hs por semana aos afazeres domésticos. Não é pouco, considerando que a jornada semanal de trabalho costuma ser de 40 horas.

A pesquisa realizada por Cecília Troiano, em 2006, para o livro Vida de Equilibrista, dores e delícias da mãe que trabalha, apurou o seguinte, entre quase 800 respondentes:

Quem faz o quê na rotina dos filhos?

QUEM…

Mãe

Pai

Empregada

Babá

Avós

Acorda

67%

10%

7%

4%

5%

Prepara o café da manhã

48%

12%

23%

5%

9%

Leva para a escola

41%

14%

3%

Condução / rodízio 17%

6%

Busca na escola

36%

13%

3%

Condução / rodízio 18%

8%

Vai às reuniões da escola

75%

6%

3%

Leva para atividades fora da escola

58%

13%

2%

1%

5%

Prepara a lancheira

46%

4%

14%

5%

6%

Prepara o almoço

21%

2%

43%

4%

17%

Prepara o jantar

46%

5%

26%

5%

12%

Almoça junto com a criança

34%

7%

13%

7%

15%

Leva ao médico

91%

4%

3%

Janta junto com a criança

59%

9%

5%

5%

9%

Dá banho

37%

7%

12%

9%

7%

Faz dormir / põe para dormir

71%

12%

1%

2%

2 %

E a autora comentou essa tabela anterior:

Apesar de trabalhar fora, a mãe é soberana em todas as atividades relacionadas aos filhos. A ausência ou pouca divisão de tarefas por parte do pai fica cristalizada. Eles ficam muito atrás das mães em todas as atividades. O pai participativo, do qual tanto se fala, ainda é um sonho das mulheres. Nada na vida real (da média das mulheres) confirma esse empenho dos homens em partilhar com a mãe o dia-a-dia das crianças. Até mesmo durante o jantar, que teoricamente teria a presença de ambos os pais em casa, os pais estão ausentes. Eles jantam com os filhos em 9% das vezes – é a mesma incidência dos avós!

Nas rotinas da casa americana, mulheres trabalham dobrado

Nos Estados Unidos, pouco mudou nos papéis de homens e mulheres. Lá, elas executam pelo menos o dobro do que os homens dentro de casa. E olha que por lá ninguém têm a ajuda de empregadas!

A recente pesquisa nacional da Universidade de Wisconsin (University of Wisconsin’s National Survey of Families and Households), mostra a média de trabalho no lar (cozinhar, limpar, cuidar do jardim e dos reparos da casa) por tipo de casal:

  • mulher (em média) = 31 horas/semana
  • homem (em média) = 14 horas/semana
  • dona de casa = 38 horas/semana
  • marido provedor = 12 horas/semana
  • mulher que trabalha fora = 28 horas/semana
  • homem que trabalha fora = 16 horas/semana

Faz sentido? Pesquisadores americanos descobriram que mesmo que ela trabalhe fora e ele não, a mulher acaba fazendo a maior parte das tarefas da casa.

No cuidado com os filhos, cinco a um

Cuidar das crianças é tarefa quase exclusiva das mulheres americanas. No estudo considerou-se que atender às necessidades físicas de uma criança significa vesti-la, cozinhar para ela, alimentá-la e limpá-la (e não a parte divertida de brincadeiras e histórias para dormir).

  • Dona de casa = 15 horas/semana
  • Pai provedor = 2 horas/semana
  • Mãe que trabalha fora = 11 horas/semana
  • Pai que trabalha fora = 3 horas/semana

O mais assustador é que a proporção de quanto a mulher faz, em relação ao homem, não mudou em 90 anos!

Isso não significa que as mulheres americanas estejam felizes:

  • 58% das mulheres consideram que a divisão de trabalho na família é injusta com elas.
  • 11% dos homens consideram que a divisão de trabalho na família é injusta com eles.

Leia o artigo completo “When Mom and Dad share it all” no New York Times: www.nytimes.com/2008/06/15/magazine/15parenting-t.html?pagewanted=1&_r=2

Desequilíbrio possível

[Ruben Zonenschein]

A equação simplesmente não fecha. Não tem como dar conta de tudo. Filhos, o casal, a casa e tudo que envolve, se forem levados muito a sério, desembocam numa vida de equilibrista, cheia de tropeços e falhas. Tem momentos que é no trabalho que ficamos devendo, outras vezes é em casa, com um dos filhos ou entre o casal. O melhor, então, é simplesmente relaxar. Não se cobrar tanto, tentar preecher com bom humor e carinho o que as horas do dia não dão conta.

Eu e a Simone nunca estabelecemos uma divisão definida de tarefas. Sempre tentamos nos ajudar quando o outro está mais atarefado no trabalho. Às vezes, claro, um acaba se queixando que a semana está meio desequilibrada… Mas esse acerto de contas nunca foi zerado. Se bem que… acho que meu saldo está positivo. Tenho que repensar sobre isso.

A mágica está em não deixar a situação chegar ao ponto de me sentir um equilibrista. Já tentei fazer natação no mesmo horário deles (não deu certo, mas vai dar), ou vou na ioga no intervalo de pegar e levar um para as inúmeras aulas. O teatro do Tom, à noite, ficou encaixado no meio do meu grupo de coral (e ele fica pacientemente me esperando ouvindo os desafinados).

Mas posso repartir aqui as minhas idéias para recompor a equação:colocar um anúncio de vaga para motorista para o período da manhã e deixar claro para qualquer engraçadinho que oferecer um cachorro para meus filhos que a resposta é NÃO. Afinal, adivinha quem vai ter que passear com ele?

Ruben  Zonenschein é economista, pai de Tom e Paulo e marido de Simone, que escreve no blog esta semana.

Um brinde à parceria

[Maggi Krause e Mauricio Vilhena]

A tarefa era a seguinte: as equilibristas editoras deste site bolaram um questionário que deveria ser respondido em separado e em sigilo por cada um dos parceiros dessa jornada diária entre trabalho, filhos, casa e relacionamento. Cada um cumpriu sua missão e enviou ao outro as respostas por e-mail, para só depois discutir o assunto. Seria uma oportunidade para Maggi e Mauricio perceberem alguma divergência ou colocarem a limpo os pratinhos. Não precisou: as respostas falaram por si mesmas.

1 – Como é sua rotina (de trabalho, em relação à organização da casa, à agenda dos filhos, às atividades conjuntas de casal)?

Maggi: De manhã, nos dividimos para levar as crianças à escola, mas como o Mauricio está em Curitiba 3 vezes por semana, está sobrando mais pra mim.  A nova vida de home office permite me envolver mais quando eles chegam em casa, vão à natação ou, de vez em quando, recebem amigos na sexta-feira à tarde. Nossas atividades conjuntas acontecem principalmente nos finais de semana, e as do casal sozinho dependem de deixarmos os meninos com os avós, o que é bem tranqüilo. Acho que a rotina está bem balanceada e um ajuda o outro no que pode.

Mauricio: Quando estou em São Paulo levo os meninos para a escola, ajudo com banho e comida… Nos finais de semana sou eu quem levanto cedo para ajudar-los com comida e diversão, faço as compras de supermercado e padaria uma vez que acho isto mais interessante do que ela (para mim é trabalho mas diversão ao mesmo tempo, desde que seja agendado… tipo tem que fazer até o final da semana, odeio quando ligam pedindo para fazer naquele momento…). O peso ainda é maior para a minha mulher, considero que ajudo em 45% com os filhos e uns 35% na casa…

2 – Como é feita a divisão de tarefas? Levou tempo para chegar a esse arranjo ou acordo? Entre os dois, a combinação foi fácil, difícil, discutida, planejada?

Maggi: A divisão agora mudou um pouco em função do trabalho dele em Curitiba, mas acontece quase naturalmente. Quando preciso fazer uma entrevista no final da tarde, ele busca as crianças, dá banho, jantar, enfim, resolve tudo. Nos dias em que não está em Curitiba consegue ajudar mais por não ter horário fechado e também trabalhar em casa.  Em contrapartida, estou mais disponível para as crianças e com salário menor que o anterior, o que acaba sobrecarregando o Mauricio nesta parte financeira do casal… 

Mauricio: Em consenso… acho que foi rápido e natural. Sempre que achamos que a divisão está ruim para alguma das partes, renegociamos, reclamamos e nos entendemos.

3 – Quem é o mais equilibrista? Se você também perguntasse isso a seus filhos, quem acha que eles apontariam?

Maggi: Acho que eles ficariam perdidos com a pergunta, até por serem muito pequenos. Ambos passamos a imagem de que os dois se ajudam e podem fazer todas as tarefas, o Mauricio sempre se envolveu em todas as rotinas (fralda, comida, banho, brincadeira, bronca…)

Mauricio: Acho que os dois, mas com certeza ela é mais e eles deveriam apontá-la.

4 – Quais as vantagens e desvantagens de um casal equilibrista? Vale a pena a divisa de tarefas e a cooperação? Por quê?

Maggi: Acho que vale muito a pena principalmente pela imagem de pais que queremos passar para os nossos filhos. Eles são meninos e acho que o desafio é criar a nova geração para aceitar como natural esse balanceamento das funções. Quero que eles cresçam já com o objetivo de oferecer ajuda e dividindo igualmente e não que esperem alguém pedir. A palavra ajuda, no meu ver, deve ser substituída por “divisão igualitária de responsabilidades e de tarefas”.

Mauricio: A vantagem é a cumplicidade com a mulher e com a família. Isso  aproxima, gera mais alegrias e também momentos de estresse. Mas não imagino fazer de outra maneira. Sou de uma família de 4 filhos homens onde à noite, quando não tínhamos empregada, o meu pai lavava a louça… Fomos criados para meter a mão na massa em tudo. Não gosto que façam o meu prato de comida e muito menos que arrumem meu armário ou minha mala de viagem.

5 – Dê sua dica para outros casais equilibristas.

Maggi: Sinto que fica menos pesado se cada um se dedica ao que mais gosta… Se ele curte fazer compras, deixe fazer. Percebo em muitos casais que a mulher não quer perder a posição de poder na casa, ela é centralizadora e gosta de cuidar de tudo. Não ter talento para dona-de-casa (como no meu caso) às vezes ajuda, faz com que o marido assuma responsabilidades de que elas não costumam abrir mão. É preciso mais flexibilidade e menos perfeccionismo – mas acho que isso vale para tudo na vida, né?

Mauricio: Conversar e setar as expectativas é fundamental. Mulheres e homens não reagem da mesma maneira em praticamente tudo! Se você não deixar claro qual a expectativa, ambos vão se frustar. As mulheres devem deixar mais claro o querem. E os homens devem prestar mais atenção nos sinais indiretos que elas dão quando não estão satisfeitas… 

Maggi Krause é jornalista free-lancer e Mauricio de Vilhena, gerente de marketing. Ambos se alternam nos cuidados com Tiago (6 anos) e André (3 anos).