Força para ser mãe e pai

[Fernanda Metzler]

Grávida, Fernanda desfez o noivado quando percebeu que o futuro marido não estava comprometido com o projeto de ter filhos. E desde o nascimento de Matheus, hoje com 7 anos, ela desempenha os papéis de mãe e pai na vida do filho.

VDE – Quando descobriu que o Matheus seria assumido inteiramente por você (e não pelo casal?)?

Fernanda – No momento que falei da possibilidade de estar mesmo grávida (algo que foi feito com a consciência de ambos), a reação dele foi estranha, reticente. Neste dia acabamos discutindo. Ele me informou que “a passagem de lua de mel dele, ele iria ganhar e a minha era pra eu comprar”… como reagir diante de uma situação e homem deste? Isso e mais um monte de outras atitudes semelhantes e algumas até piores. Estávamos noivos e com praticamente tudo pronto, inclusive o bebê, para o casamento, dali a 40 dias. Em poucos minutos eu tomei a decisão mais certa da minha vida: o convidei a se retirar da minha casa e me devolver a chave. Não vou ser hipócrita, chorei! Mas ao mesmo tempo estava demonstrando que uma família se forma com comprometimento de ambos e não da maneira como ele estava encarando. No dia seguinte, recebi o resultado positivo do exame de sangue, confirmando a gravidez. Sabe a resposta que obtive quando lhe falei? Pasmem! “Ah, confirmou mesmo isso aí?” A resposta está dada: dá pra tentar alguma coisa com um cara que chama o seu bebê de “isso aí”?

VDE – Você acha que isso pesou na sua relação com a maternidade?

Fernanda – Sim! Me senti muito mais forte e tranquila pra criar o Matheus, apesar de sozinha. Acredito que há muitos terapeutas que podem lhe auxiliar de maneira muito eficaz neste caso.

VDE – Existe mais cumplicidade entre você e o Matheus, por serem mais vocês dois?

Fernanda – Sem dúvida! Eu sou o porto seguro dele e ele o meu – de uma maneira saudável, é claro! O Matheus sabe que só pode contar comigo, já que o pai é uma visita esporádica (mais ou menos 5 ou 6 visitas no ano).

VDE – Você considera que precisa assumir os papéis de pai e mãe?

Fernanda – Sim, porque, de uma forma genérica, as mães são mais protetoras, carinhosas: eu sou muito com ele. E os pais são mais cobradores de resultados, coisa que eu também sou muito com ele. O maior desafio é equilibrar as intensidades de cada comportamento e quando agir de uma forma ou de outra. O melhor de tudo é que eu acho que desempenho relativamente bem meus papéis de Mãe e de Pai. Não posso deixar de agradecer a minha terapeuta Cintya. Ela me ajuda muito a reconhecer meus méritos, porque a minha cobrança sobre meu desempenho é pesada! Com este acompanhamento terapêutico me conscientizo muito sobre meus méritos e percebo onde preciso melhorar.

VDE –  Como o fato de você ser a única responsável influencia na vida do Matheus?

Fernanda – Influencia positivamente, porque tem um exemplo pra seguir e não fica em conflito sobre quem agradar. Segue a mãe, que está 24horas por dia ao seu lado, em qualquer circunstância, e ponto.

VDE – Como considera sua “Vida de Equilibrista”?

Fernanda – Uma louca delícia! Mas agora, com este MBA que estou fazendo, mais dois cursos que ainda pretendo fazer, tenho certeza absoluta que vai sobrar tempo no meu dia para eu fazer o que der vontade, sem loucura, com calma e principalmente, prazer.

VDE – Qual conselho daria para outras mães que vivem situação semelhante à sua?

Fernanda – Otimizem seu tempo. Procurem informações sobre livros com o tema “como gerenciar o seu tempo” , “gaste energia com o que é realmente importante pra você”, foque a sua energia no que é realmente importante pra VOCÊ! Tem muita coisa que podemos otimizar, se tivermos realmente a VONTADE de MUDAR.

Fernanda Metzler, mãe de Matheus (7), é publicitária, estudante de MBA em Gestão Organizacional e empreendedora.

Opção Estudada

[Simone Naumann]

Ter tempo para se envolver ativamente na vida da filha é prioridade de Simone, que além de trabalhar, investe em uma nova graduação para mudar de carreira. Mas ela pondera muito bem vantagens e desvantagens, como poder vivenciar a experiência de ser uma mãe diferente (com outro filho).

Simone e Clara

Vida de Equilibrista – Porque você (ou o casal) optou por ter um filho só?
Simone – Nós optamos por um único filho, pois achamos que seria difícil conseguir equilibrar projetos pessoais e profissionais com mais um filho. Acredito que seja importante e essencial participar da vida rotineira da criança ativamente, lendo estórias, jogando, conversando, rindo das nossas piadas inventadas, enfim, criando vínculos afetivos que contribuem para a formação da personalidade da criança. Só que para isso precisamos de tempo e equilíbrio emocional.

VDE – Considera que o desenvolvimento de sua carreira influenciou na sua decisão? Conte de que maneira isso ocorre.
Simone – Sim, pois sou professora de inglês e decidi mudar de profissão, voltei para a faculdade, estou estudando psicologia à noite, dou aulas na parte da manhã, e fico com a minha filha Clara, de 7 anos, à tarde. Tenho me dedicado muito a essa nova profissão, o que requer muito tempo e esforço. Um segundo filho não se encaixaria nessa nova fase.

VDE – Quais as vantagens e desvantagens para a mãe (e para o pai ou parceiro) de ter um filho só?
Simone –
Vantagem é poder se dedicar por completo e estar atenta às necessidades emocionais do seu filho. Desvantagem é não ter a oportunidade de vivenciar a experiência de ser uma mãe diferente. Pois cada relação é única.

VDE – Quais as vantagens e desvantagens que você prevê para seu filho, enquanto filho único?
Simone – Vantagens: Atenção total, melhores recursos para aprendizado, lazer e saúde. Desvantagens: Terá que elaborar as conseqüências de uma família menor e possibilidade de solidão.

VDE – Você está segura de sua escolha ou já teve alguma crise por conta de dúvidas?
Simone – Sim, estamos seguros da nossa decisão, porém acho importante mencionar que na hora da DECISÃO: “Não iremos ter o segundo filho”, a angústia da escolha aparece, o que é inevitável em qualquer processo de escolha. Mas conseguimos elaborá-la.

Simone Naumann é professora, estudante de psicologia e mãe de Clara, 7 anos.

O desafio da maternidade

[Nora Mirazon]

Diretora de Marketing da Pepsi Cola, Nora Mirazon diz que a maternidade é um aprendizado constante. Para não sentir culpa, faz valer ao máximo o conceito de qualidade x quantidade e aproveita muito os momentos com a filha de 7 anos.

Vida de Equilibrista: Como consegue dar conta da rotina de superexecutiva e ainda cuidar da família? Quem são seus apoios?

Nora Mirazon: Com organização. Tenho uma boa estrutura montada em casa, que segue uma rotina de tarefas bem clara e estudada. Além disso, tomo tempo para garantir que as pessoas que trabalhem em casa e que me ajudam enquanto não estou sejam de plena confiança e que tenham valores parecidos aos meus, para não termos ruptura no acompanhamento da minha filha. Por fim, diria que um diálogo aberto e respeito também são características fundamentais para que as relações e a própria rotina em si flua da melhor maneira possível!

VDE: Já se viu em algum aperto familiar por conta de uma situação de trabalho?

NM: As viagens, cada vez mais freqüentes, já me colocaram em situações delicadas, como apresentações na escola, ballet, etc. Com meu marido a relação é de cumplicidade e apoio, posso contar com o suporte dele no dia a dia

VDE:  Abraçar uma carreira exige dedicação, tempo, estudo… Você se cobra mais na carreira ou com os filhos?

NM: Na carreira acho que nos conhecemos e nos “garantimos” mais com as longas horas de dedicação, boas equipes, cursos, etc. A maternidade é um aprendizado, uma descoberta constante… acho que me cobro mais em relação à maternidade, sempre me desafio a encontrar novas e melhores formas de educar minha filha, ensinar valores, estar presente. Mas acho que se não trabalhasse seria igual!

VDE: Sente alguma culpa por estar menos tempo com ela?

NM: Desde que voltei a trabalhar acredito no conceito de qualidade X quantidade, e faço valer cada momento passado com ela. E mesmo com apenas 7 anos, ela aprendeu já o conceito, e sinto que ela responde na mesma sintonia. Aproveitamos os momentos juntas.

VDE: Qual considera sua maior conquista?

NM: O equilíbrio entre as coisas…me considero realizada com minha família e minha carreira, me sinto empreendedora e aberta a aprender, a buscar um balanço que funcione não só para mim.

VDE: Qual conselho/dica daria para outras equilibristas como você?

NM: Realização é um ingrediente muito motivador no dia-a-dia. Fazendo o que se gosta parece que as coisas se ‘encaixam’ nos seus lugares.

Sentir-se bem…

[Fatima Zagari]

Ela esbanja bom humor, mesmo que sempre queira se superar, como mãe e profissional. Garante que o importante é sentir-se bem consigo mesma e valorizar pequenos prazeres. Mesmo assim, a rotina é puxada: “O problema é que a cada dia aparece um novo pratinho para equilibrar!” desabafa Fátima Zagari, vice-presidente de Ad Sales & Trade Marketing da Viacom Networks Brasil e mãe de um casal de gêmeos de 13 anos.

Vida de Equilibrista: Como consegue dar conta da rotina de super executiva e ainda cuidar da família? Quem são seus apoios?

Fatima Zagari: Se você não tiver uma boa estrutura com pessoas e funcionários em que possa confiar, fica muito difícil equilibrar todos os pratinhos.  Conto com três empregados: motorista, arrumadeira  e cozinheira. Conto também com um apoio muito importante, que é do meu marido, principalmente por entender a vida atribulada que eu tenho.

VDE: Já se viu em algum aperto familiar por conta de uma situação de trabalho?

FZ: Já sim. Tinha uma viagem marcada para Miami e há menos de 72 horas eu precisei demitir a babá. Os meus filhos tinham 6 anos na época e eu ia ficar ausente por 1 semana . Contratei uma pessoa, treinei, rezei e fui viajar. Deu tudo certo, apesar de eu ter viajado preocupada.

VDE: Abraçar uma carreira exige dedicação, tempo, estudo… Você se cobra mais na carreira ou com os filhos? Sente alguma culpa por estar menos tempo com eles?

FZ: Acredito que o importante é a qualidade e não a quantidade do tempo que você passa com os filhos. Apesar de ter uma vida bastante corrida, consigo dar atenção para as crianças e o melhor, acompanhar e saber tudo o que está se passando, principalmente na escola. Diariamente entro no site do colégio e acompanho todos os trabalhos, lições e provas que eles têm que fazer. A cobrança existe,  claro. Sempre quero me  superar como mãe e como executiva , mas é natural.

VDE: Qual considera sua maior conquista?

FZ: Conseguir ser mãe, mulher, administrar a casa e ser executiva. E junto com tudo isto, estar às 5 horas da manhã malhando.

VDE:  Qual conselho/dica daria para outras equilibristas como você?

FZ: Apesar de todas as funções e atribuições, saber administrar o tempo, e entender que para conseguir um bom equilíbrio o importante é você estar bem com você,  feliz e principalmente enfrentar todos os desafios com cautela e tranquilidade . Entender que para o seu mundo andar, você tem que se dar valor e priorizar também as pequenas coisas da vida como: ouvir uma boa música, tomar um bom vinho, enfim dar tempo e valor para você. Junto com tudo isto estar sempre linda, se sentir linda, feliz e poderosa.

 

Primeiro dia de mãe

[Verônica Lopez]

Isso mesmo, no dia seguinte ao nascimento de Antônio, Verônica teve a disposição de dar essa entrevista!  Saiba quais suas expectativas e planos para o início da vida de equilibrista.

Você se considera uma profissional dedicada?

Sim, sou dedicada. Estou na área de pesquisa de mercado há dez anos e há um nesta empresa. Trabalhei a gravidez inteira, minha carga horária é bastante puxada e o dia-a-dia é muito intenso. Até gosto quando está pegando fogo. Sou bastante comprometida, se preciso, levo serviço para o final de semana. 

Seu ambiente profissional é favorável para quem tem filhos?

Percebo que minhas colegas com filhos pequenos sofrem bastante, às vezes são 9 ou 10 da noite e elas querem ir para casa ver o filho. O marido acaba tendo que fazer muita coisa pois  elas não estão em casa, precisa pegar criança no berçário, dar banho, comida… Isso gera conflito entre o casal.

Você irá fazer alguma adaptação na volta da licença?

Boa pergunta, vou pensar depois, mas acho que sim. Estou pensando em chegar mais cedo para sair mais cedo. Plano meu, talvez seja uma ilusão.

Porque decidiu ter filhos e quando tomou a decisão?

Sempre quis ter. A decisão de ter agora é a relação estável com meu companheiro (namoro de sete anos e dois morando junto). Chegamos em um ponto em que tínhamos estabilidade suficiente pra ter um filho, um salário legal e, claro, uma vontade irresistível.

Durante a gravidez, quais foram as expectativas e planos para quando o bebê chegasse?

A expectativa continua sendo de uma mudança radical na minha vida, na rotina, nos valores, além da expectativa de amor incondicional. Será também uma mudança total no dia-a-dia por 5 meses (4 de licença + 1 de férias).

Quais as providências tomadas para o pós-parto?

Aumentei o número de vezes da faxineira, mudei de um apartamento para uma casa com mais infra-estrutura. Brinco que virei gente grande para ter esse filho: estamos com um carro cada um e gastando mais dinheiro.

Pretende seguir trabalhando após a licença? Por quê?

Sim. Para mim, deixar de trabalhar seria desistir de muita coisa. Tenho planos e vida acadêmica paralela, quero fazer doutorado e isso depende de juntar uma boa grana no trabalho. São sonhos que não quero abandonar. Também não vou largar meus 10 anos de carreira, vou continuar construindo coisas que ainda quero na carreira e vida acadêmica. 

Quais as expectativas sobre o período de adaptação, com o bebê e depois com o retorno ao trabalho?

Não tive tempo para encanação durante a gravidez, que foi superboa e supersaudável, trabalhei com mais energia. O livro “O que esperar quando se está esperando” me orientou em muitas coisas. Estou pensando de leve sobre o retorno ao batente. Tenho uma idéia muito vaga do que vou fazer para conciliar Antônio e trabalho. Acho que berçário no começo, e vou ter que dar algum jeito, trabalhar menos horas.

Você tem outros modelos a seguir, colegas de trabalho, amigas, mãe ou sogra? Eles influenciam?

Aprendi com minha mãe, que trabalha com processamento de dados, que dá para ter filho e se virar. Ela teve duas filhas, trabalhava e se sustentava sozinha. Sempre nos passou essa idéia de que ter filho combinava com trabalho.

Fale sobre o apoio do seu companheiro.

Acho importantíssimo o apoio dele nesse período de mudanças e daqui pra frente. Confesso que sou bastante centralizadora, tendo a não aceitar ajuda dos outros. Mas no final da gravidez ele ajudou demais e agora, mais do que nunca, ele é imprescindível. Preciso dele de qualquer jeito!

Verônica Lopez é psicóloga, trabalha em um instituto de pesquisa de mercado e é recém-mãe de Antônio.

3 empresárias, 3 experiências

[Cristina, Dani e Ana]

Nessa semana fizemos um bate-bola com 3 equilibristas empresárias: Christina, Dani e Ana Luiza. Três pontos de vista sobre o mesmo tema, na opinião de quem vive esse desafio. Confira!

 

Sobre as equilibristas:

CHRISTINA é mãe de Dora (2 anos e meio), pedagoga pela PUC-SP e coordenadora pedagógica de sua escola – Lugar de Arte Atelier Infantil (www.lugardearte.com.br);

DANIELA é irmã e sócia da Christina, mãe da Valentina e do Chico (5 e 6 anos, respectivamente), publicitária e responsável pela área de eventos e parcerias da escola.

ANA LUIZA é mãe do Luiz Guilherme de 8 anos,  publicitária de formação e duas vezes empresária: dirige a Revista RA – Revista da Aldeia e a Máquina de Idéias Comunicação e Eventos.

 

 

Sei que vocês já foram profissionais atuando para outras empresas, de outras pessoas. O que pesou na decisão de montarem um negócio próprio?

DANI: Pesou a vontade de ser livre, de ter tempo para ficar com as crianças, poder passar as férias escolares com eles. Meu marido e eu trabalhamos desde cedo, juntamos dinheiro e com o meu fundo de garantia daria para investir num negócio próprio. Nós dois deixamos nossos cargos e montamos alguns negócios juntos e em família.

CHRISTINA: Percebi que a oportunidade de abrir um negócio próprio havia chegado. Resgatei um sonho antigo de abrir uma empresa na área de educação, para ter autonomia e tranqüilidade ao mesmo tempo. Juntamente com o benefício de estar mais perto da minha filha, a idéia de abrir um negócio parecia perfeita. Achava que ia ter mais tempo para estar em casa, e que mesmo assim não abriria mão da minha carreira de educadora. Quando terminou o período de licença-maternidade, trabalhei por 8 meses como autônoma, enquanto ia organizando a abertura do Lugar de Arte – Atelier Infantil.

ANA: Meu filho!!!, minha casa, o casamento. Com isso teria a comodidade de fazer meus horários e estar mais tempo com ele, me dedicar mais.

 

 

Hoje, após um tempo como empresárias, sentem que as vantagens esperadas se confirmaram na prática?

DANI: Sinto que as vantagens se confirmaram. Tenho a sorte de ter sócios e parceiros maravilhosos para podermos dividir e somar o trabalho. Ser livre e ter tempo é muito bom!

CHRISTINA: Realmente tenho mais autonomia, estou atuando em todas as áreas que compõem o Lugar de Arte, realizando até anúncios e textos publicitários. Porém, a vida tranqüila que eu achei que ia ter ainda não chegou. As duas manhãs que reservei para dedicar a mim, em cabeleireiro e ginástica, foram tomadas pelo trabalho. Outras duas tardes que seriam dedicadas à minha filha foram engolidas pela empresa. E as noites? Essas também foram comprometidas, trabalho até tarde da noite no computador, preenchendo dados na planilha financeira e preparando reuniões, buscando textos e desenvolvendo idéias de crescimento. Não consigo terminar o dia pessoa jurídica e começar a noite pessoa física.

ANA: Acho que pensei que teria mais tempo livre. Mas sei que tempo, sempre precisamos de mais!!! Mas o fato de poder levá-lo e pegá-lo na escola, conseguir participar de mais momentos com ele, confirmam sim!! Mas, nunca, em momento algum, pensei em parar, e sim adaptar o meu trabalho a minha nova fase.

 

 

Se fossem escolher novamente entre trabalhar para os outros ou ter um próprio negócio, manteriam suas escolhas ou mudariam? Por quê?

DANI: Eu sou mutante por natureza. Tem algumas pessoas com quem eu adoraria trabalhar. De qualquer maneira, sempre trabalhamos para os outros.

CHRISTINA: Acredito que “peguei gosto” pelo lugar de empresária, pois a satisfação alcançada quando vejo as crianças se desenvolvendo, os pais felizes e a equipe progredindo são indiscutivelmente maiores que a realização que já tive trabalhando para as empresas de outras pessoas. Meu descanso foi embora, mas estou realizando um sonho.

Acredito que vou conquistar o equilíbrio e estabelecer o fim do horário comercial. Até lá vou continuar tentando estar perto da Dora nos momentos mais ricos de seu dia a dia e que não delego a ninguém, o banho, a hora de dormir e escapadas para passar uma tarde na livraria.

ANA: Manteria, sem dúvida! A maternidade, a casa, a família, o marido… nos tomam tempo e atenção. Com a opção de fazer o meu horário, consigo equilibrar melhor meus pratinhos.

 

 

Como vocês se definem como equilibristas?

DANI: Atrapalhada. Preciso administrar melhor o tempo do relógio. Minhas relações afetivas com os amigos e as boas risadas estão pra depois.

CHRISTINA: Hoje em dia misturo muito as coisas, pois não consigo parar de pensar em soluções e melhorias para o meu negócio em nenhum momento do dia. Como optei por não ter babá, ensino minha filha a brincar em seu quarto enquanto estou no escritório ao lado. Ela tem sua mesinha ao lado da minha e hoje com 2 anos e meio gosta de ficar desenhando, recortando ou brincando perto de mim.

Estou conseguindo equilibrar quase todos os pratos, mas o pratinho que representa a minha individualidade precisa de impulso. Todas as semanas procuro abrir mais um espaço na minha agenda para me cuidar.

ANA: A gente sempre acha que deixa algo; que falta em algum lugar, que poderíamos ser melhores em tudo, como mãe, como mulher, profissional. Mas acho que me saio bem! – pelo menos até agora nenhum pratinho quebrou.

 

 

Como os respectivos maridos vêem vocês como equilibristas-empresárias?

DANI: Dando conta do recado.

CHRISTINA: Ricardo, meu marido, me apóia demais em tudo que faço. Como empresária ele me deu a maior força do mundo e tenho certeza de sua admiração por mim. Mas sei também que ele gostaria um pouco mais de tranqüilidade, de me ver despreocupada, de braços abertos somente para recebê-lo chegar em casa.

ANA: Vejo que ele tem orgulho do meu trabalho, assim como meu filho; e acha, sim!, que eu desempenho bem meus papéis.

 

 

Que conselho vocês dariam para uma equilibrista que está pensando em ter um negócio próprio?

DANI: Meu conselho é para ela checar se há reserva financeira para bancar o negócio, sem esperar resultados, por um ano e meio e ter uma pessoa ou veia erudita para escrever os textos do negócio.

CHRISTINA: Que seguir um sonho é algo muito confortante e assim como a maternidade, tem seus momentos de angústia e solidão. Mas toda mãe sabe que as delícias superam as dores, sempre.

ANA: Que vale a pena, por você ter algumas comodidades, facilidades, conseguir fazer o seu horário, ser flexível. Mas ao mesmo tempo, é uma responsabilidade a mais, ou um pratinho a mais!

Licença-maternidade na visão de uma terapeuta familiar

[Suely Abujadi Puppi]

Serena e equilibrada, a terapeuta familiar Suely Abujadi Puppi costuma ser um bom ouvido para mães em início de carreira. Digo recém-mães, sejam elas jovens ou mães tardias. A maioria, como seria de se esperar, já estudou, investiu na carreira e estruturou o casamento, antes de dar o decisivo passo da maternidade.

Qual a inquietação das mães da atualidade?
Além do desgaste da amamentação e do pouco sono, a mãe durante a licença muitas vezes se preocupa se vai conseguir continuar trabalhando e como vai dar conta de dividir seu tempo entre o bebê e a carreira.

Como a terapia familiar pode ajudar?
A terapia familiar trabalha tirando a culpa, a cobrança, o julgamento e a crítica. Ajuda a resolver os problemas de uma forma mais suave. Ela orienta no sentido de deixar a mãe menos ansiosa e mais calma. O ideal seria que a mãe procurasse a terapia antes de ter o bebê, pois as inquietações começam ainda na gravidez. Também o pai pode se sentir grávido e é possível envolvê-lo antes de o bebê nascer. Assim, cria-se um vínculo anterior e o pai já aprende a dar assistência e a deixar a mãe mais segura.

O que costuma acontecer durante a licença-maternidade?
Primeiro a mãe precisa se recuperar do parto e iniciar a amamentação, aí é importante se planejar e contar com uma ajuda física mesmo (enfermeira, irmã, mãe, empregada de confiança, babá). Se você está bem preparada vai curtir melhor o acolhimento do bebê e depois, aos poucos, precisa abrir espaço para cuidar de si. Tem mãe que se apega tanto ao cuidar do bebê que esquece de si, da casa, do marido. Precisa principalmente da ajuda do marido para voltar ao mundo real e não pensar que daqui pra frente será apenas mãe 24 horas e nunca mais vai sair do lado do bebê.

Você é a favor da licença-maternidade de seis meses?
Muitas mães já esticam o seu tempo de licença com férias e licença-amamentação. Acho importante o intervalo de seis meses porque, em termos médicos, se preconiza os seis meses de amamentação exclusiva. Do ponto de vista da mãe, acho que ela volta mais segura ao trabalho, pois a criança já espaçou os períodos de mamada e já come sopinha aos seis meses.

Você teria alguma mensagem para as mães?
Sei que muitas mães conseguem poucos meses de licença e outras sequer conseguem amamentar, por conta de problemas variados. É importante dizer que, apesar de o leite materno ser ideal e dar aquele aconchego de mãe, o bebê também se cria com ama de leite ou mamadeira. A mãe não precisa se torturar e pensar que está perdendo coisas, pois o amor de mãe supera todas as dificuldades.

A chegada de um filho é um momento de crise?
É um momento de mudança. O importante é não perder o foco de sua vida e não querer assumir tudo sozinha, pois fica sobrecarregada. A vida em família é como um barco que você controla com o leme e, de vez em quando, reveza com o companheiro na direção. É preciso assumir o que você quer, pois pode passar a vida frustrada por ter metas que nunca alcança. Nos momentos de crise, o importante é como você lida com a situação. Não se deve perder de vista que o momento vai passar, e a mulher passa por muitas barras e vai administrando. Não é preciso abandonar seus sonhos, evite dizer “nunca mais” só porque os filhos são pequenos e demandam atenção. Será possível tirar os sonhos da gaveta. Tem hora para tudo. Além do mais, é muito gratificante olhar pra trás e ver que se formou uma família!


Suely Abujadi Puppi é pediatra formada pela Escola Paulista de Medicina e especializada em terapia familiar pela mesma universidade e é mãe de quatro filhos. Contato tel.: 11-5549-8840.

Qual o sonho da equilibrista?

[Maria Tereza Maldonado]

Para a consultora e psicoterapeuta Maria Tereza Maldonado, as equilibristas sonham com a redução da sobrecarga de trabalho, que vivenciam em várias frentes.

Para isso, não apenas a divisão igualitária de tarefas com os companheiros e filhos se faz necessária, mas uma reengenharia do tempo e uma transformação profunda no mundo do trabalho e das convenções sociais.

O que você observa na sua vivência com as mães que trabalham?
Percebo que quando a mulher é mãe e profissional, o equilíbrio é uma meta difícil de atingir. Recentemente fiz palestras para empresas tão diversas quanto o Bradesco, a Michelin e uma refinaria em Cubatão, para públicos bem diferentes entre si, mas o conflito principal de todas as mulheres parece ser a administração do tempo e como mudar a postura do homem, que ainda é apenas participante na esfera doméstica. Afinal, se as mulheres de hoje são provedoras e ‘cuidadoras’, os homens também deveriam ser.

Qual seria então o maior sonho da mulher da atualidade?
Elas sonham com uma divisão mais justa das tarefas para diminuir sua sobrecarga. Ainda é muito forte a postura de que as coisas em casa e na educação dos filhos ficam a cargo das mulheres. De uns 10 anos pra cá, a psicologia já corrigiu uma distorção e enfocou a relação pai e filho na construção do afeto de crianças e adolescentes. Mas é preciso alterar o papel de participante do pai para uma atitude de envolvimento e partilha em todas as esferas da vida familiar.

A postura do parceiro deve mudar?
Não só isso. Hoje vivenciamos a mudança de posição da mulher dentro da família. É preciso que os dois (homem e mulher) reformulem sua postura na criação de filhos e filhas. As tarefas domésticas não devem ser mais das mulheres e sim das pessoas, lembrando que geralmente os meninos são menos cobrados no cumprimento de rotinas de arrumação e limpeza da casa. Outra grande reestruturação precisa acontecer nas empresas. Apóio a Rosiska Darcy de Oliveira, que defende uma reengenharia do tempo em benefício dessa rotina feminina. Ela diz que as empresas deveriam flexibilizar horários e determinar uma programação por tarefa e não por carga horária. A reforma da relação com o trabalho e a vida nas cidades ainda é uma transformação profunda que está por vir. Não é um processo fácil, pois vivemos séculos de condicionamento. As mulheres travam batalhas individuais e coletivas. Não dá para esquecer que fazermos parte de uma trajetória composta de mulheres que vieram antes de nós e outras que ainda virão.

Como fazer para não ter expectativas demais se este sonho de partilha com o parceiro e de flexibilização de horários na empresa não se realizar?
Acho que a mulher precisa, acima de tudo, rever seus padrões. Existe uma super exigência em relação ao desempenho de todos os papéis. No momento em que consegue uma libertação dessas exigências ela já experimenta um alívio. Depois, é uma questão de colocar suas prioridades, avaliar o realmente importa. Uma problemática atual é a pressão que a mulher se coloca em relação à imagem do corpo perfeito. Sacrifícios absurdos são cometidos em função disso. Outra coisa que se deve levar em consideração é que os filhos são um aspecto importante da vida da mulher, mas não podem ser o centro de tudo. Girar a vida apenas em torno dos filhos não dá bons resultados, são maiores as chances de eles crescerem tirânicos, mal acostumados, sem valorizar o dar e o receber.

Maria Tereza Maldonado é mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio e membro da American Family Therapy Academy. De sua riqueza de experiências profissionais (foi professora universitária, trabalhou em hospitais e em projetos sociais, além de ser consultora familiar), desenvolveu temas para as palestras que ministra por todo o Brasil com objetivo de melhorar a qualidade de vida na família e no trabalho. Publicou 28 livros e deve lançar em breve mais um, intitulado O bom conflito.

www.mtmaldonado.com.br

Sobre os temas mencionados na entrevista, Maria Tereza recomenda 2 de seus livros: HISTÓRIAS DA VIDA INTEIRA, que trata de pequenas mudanças no seu cotidiano para viver melhor e PALAVRA DE MULHER – HISTÓRIAS DE AMOR E DE SEXO, sobre o universo feminino, escrito em parceria com sua filha, a médica ginecologista Mariana. Ambos da editora Integrare.

Qual o sonho da mãe equilibrista?

[Maria Irene Maluf]

Conselheira vitalícia da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Maria Irene Maluf é pedagoga e especialista em psicopedagogia. Vê passar por seu consultório muitas mães equilibristas e já passou por essa vivência. Atualmente suas filhas têm 30 e 29 anos.

Qual sua opinião sobre a mulher que trabalha, dá conta de casa, filhos, relacionamento?

Acho que os esquemas que as mulheres montaram fazem parte da estrutura de vida atual. A realidade nos empurrou para o mercado de trabalho e não havia suporte para isso. Assumimos os lugares de direito por sermos capazes e por tornar isso possível. As dificuldades foram sentidas na prática. A mulher saiu correndo em busca de uma rede de apoios e surgiram alternativas mais profissionais, como os berçários em período integral. Hoje percebo que muitas famílias estão optando por deixar as crianças com uma empregada de confiança em vez de contratar uma babá desconhecida. Outra escolha viável é a escola de período integral, que já existe faz tempo na Europa. As escolas hoje dão um suporte amplo, que inclui formação e informação, ensinam a criança a organizar seus estudos, a ter autonomia. Muitos têm dúvida quanto à escola de período integral, mas, além de ser um local socialmente destinado para a criança, é a garantia de profissionais de excelente formação e boa índole.

Com o que se preocupam as mães equilibristas?

Creio que uma das grandes ansiedades das mães é com a segurança dos filhos, tanto a física, o que inclui o medo de seqüestro, como a emocional. Elas querem sossego, mas ele dificilmente é alcançado. Ela ficará menos aflita se tiver um porto seguro para deixar o filho (escola, avó, pessoa de confiança). Por conta das novas famílias, com a enorme quantidade de pais separados, as crianças se tornam muito vulneráveis. Os filhos passam os finais de semana com outros casais e meio-irmãos e acontece todo o tipo de incidente, como um paciente meu que caiu de um brinquedo e quebrou as costelas em uma festa infantil. Ele estava acompanhado apenas de um meio-irmão. As famílias se ampliaram de tal maneira que é mais difícil controlar quais as influências que as crianças sofrem.

Essa nova realidade atrapalha?

A reestruturação dessa nova família é muito recente. Ainda não estamos dando conta disso. A mãe, com certeza, fica insegura da posição dos filhos nestas famílias. Teme perder as rédeas e também teme pelo desenvolvimento emocional e afetivo das crianças.

Mas você vê a mãe muito culpada?

Acho que passamos dessa fase, já mudou um pouco. A mulher sabe que não deve passar muito tempo com a criança e sim umbom tempo, um tempo exclusivo e dedicado. Ela não abre mão da carreira e conta com a ajuda da creche e da escola, do transporte escolar, das empregadas, de seus apoios, enfim. Diz “vou dar um jeito” e segue em frente. Se precisar, muda seus planos de trabalho, se adapta, mas segue em frente.

Maria Irene Maluf é pedagoga, especialista em psicopedagogia e conselheira vitalícia da Associação Brasileira de Psicopedagogia e dá palestras nas áreas de pedagogia e educação. Contato:irenemaluf@uol.com.br, tel. (11) 3258-5715.