[Cecília Troiano]
Há bastante tempo, um grande amigo (prefiro não falar o nome para ele não ser linchado pelas mulheres!) insiste na seguinte frase:
“Homens envelhecem e viram gurus, mulheres envelhecem e viram avós.”
Claro que todas as vezes discutimos muito e rimos outro tanto quando ele cita essa frase. Pois bem. Nessa semana, lendo a Folha de São Paulo do dia 19 de outubro, lembrei-me inúmeras vezes da frase do meu amigo. A matéria apresentava uma entrevista com Carol Greider, professora da Universidade John Hopkins, em Baltimore, e ganhandora, neste ano, do Prêmio Nobel da Medicina. Ela foi uma das 5 mulheres premiadas nesse ano com o Nobel. Aliás, foi um número recorde de mulheres agraciadas com o tão reputado prêmio.
Nesta entrevista, ela foi questionada em relação ao papel das mulheres no campo das pesquisas científicas e suas colocações sobre o tema me fizeram pensar muito. Carol afirma que é crescente o número de mulheres em uma grande gama de cargos, como professoras associadas, professoras universitárias e cargos elevados na administração das universidades. Mas é contundente ao dizer que “ainda há uma subrepresentação das mulheres que ocupam posições importantes, posições de liderança, nos laboratórios fazendo experimentos”. Segundo Carol, em sua época como estudante, as classes eram divididas, metade homens, metade mulheres. Hoje, em sua vida profissional, no topo da universidade são apenas 10% de mulheres. Eu me pergunto, onde foram parar os outros 40%?
Ao longo de minha jornada explorando esse tema do feminino, especialmente no campo profissional, vejo que muitas mulheres optam por ter mais flexibidade e abrem mão de escalar cargos de liderança. Preferem limitar suas carreiras a posições gerenciais, nas quais o esquema de trabalho exige menos, a buscar posições de liderança, onde ganhariam mais e também seriam exigidas na mesma proporção. Assim, seria mais uma questão de escolha, uma dedicação planejada das mulheres e menos por qualquer sentido de incapacidade para postos de chefia.
Carol Greider também lança outra hipótese, a do tempo, ao menos isso é o que ela espera. Segundo ela a presença maior das mulheres no patamar mais alto no ambiente profissional é uma questão de tempo, um intervalo, até que mais mulheres sejam premiadas pelo crescente número de mulheres nesse patamar. Ela ainda completa sua análise dizendo que há pouco preconceito, pelo menos no meio acadêmico, em relação às mulheres. Mas ainda perduram, como ela comenta, “aspectos mais sutis que justificam menos mulheres no topo”.
Na opinião de Carol, alguns homens se sentem mais confortáveis ao recomendar colegas homens, mas ela tem visto pouca discriminação clara e aberta. Vale lembrar a declaração do conselheiro econômico do Presidente Barack Obama, Larry Summers, então reitor de Harvard, feita há poucos meses. Ele afirmou publicamente que as diferenças inatas entre homens e mulheres justificavam o fato de que poucas mulheres teriam êxito em carreiras na área de exatas. Ou seja, ainda há muito o que se discutir sobre isso antes de darmos esse assunto como página virada. Será uma questão de escolha das mulheres, tempo ou perfil?