Não basta ser mãe brasileira nos USA, tem que fazer feijoada!

Estou vivendo a vida de uma mãe equilibrista americana, mantendo o jeitinho de mãe brasileira, claro. Já há 8 meses vivendo em Atlanta, a cada dia sou surpreendida por mais um desafio dessa convivência latino+americana.  Meu último desafio foi preparar uma feijoada para o “International Lunch” da escola do meu filho. Fiquei sabendo há pouco mais de 3 dias que ele escolheu, voluntariamente, levar feijoada como o prato típico brasileiro, claro, já sabendo que quem ficaria com o “mico” seria a mãe. Na hora em que ele me comunicou perguntei: “mas por que você não escolheu brigadeiro? Beijinho?”. Tarde demais, a escolha já estava feita e marcada no cardápio do dia. Feijoada será então. Ainda bem que americano e ainda mais garotos de High School não tem muita noção do que é uma feijoada boa, aliás acho que nem sabem direito o que é. Sorte minha (e deles) porque sou uma brasileira que NUNCA fez feijoada na vida!!!

Mas, como não basta ser mãe nos USA, tem que fazer feijoada, vamos lá, mão à obra. 

Aproveitando-me do jeito prático de viver das donas de casa americanas, usei e abusei dos produtos pré-prontos. Afinal, o “American way of life” existe para ser usado, certo? Feijão preto em lata seria meu ponto de partida. E os pertences da feijoada? Onde iria achar carne seca, paio? A loja brasileira mais próxima fica distante da minha casa e nem teria tempo de ir até lá, com todas as outras demandas que tenho com mestrado e trabalho. O jeito criativo que encontrei foi de comprar linguiça (beef sausage) e smoked ham (tipo um tender). E o mais importante, comprar um belo caldeirão. Fora isso, o básico: cebola, alho e ervas. Por sorte, os supermercados daqui são super abastecidos e no Kroger (nosso Pão de Açúcar) encontrei tudo o que precisava. Ah, me esqueci de dizer, a feijoada seria uma “semi-feijoada” porque não estaria acompanhada de farofa nem de couve. O mais parecido que vi com couve por aqui se chama “kale” mas o sabor é bem diferente. Achei que tudo bem ser uma feijoada com arroz branco e laranja apenas. Para quem nunca tinha feito uma feijoada na vida, estaria de bom tamanho para o evento da escola. O arroz, claro, também optei por um que não me faria passar vergonha. Caso contrário, meu arroz seria o do tipo “unidos venceremos”. Mas o arroz que escolhi basta ferver a água já com os temperos e depois jogar sobre o arroz cru, tapar e esperar, fica pronto em 5 minutos. E pasmem, soltinho!!

Para incrementar o feijão, dei uma bela refogada na linguiça e no presunto, depois joguei o feijão com um pouco de caldo de carne (bem que procurei mas não achei aqui aquele caldo de feijão tipo Knorr que temos no Brasil). O apartamento já começou a cheirar com gostinho de Brasil (não são todos os gostos de Brasil que atualmente me apetecem mas nossa comida tem seus méritos!) e vejo meu filho salivando no sofá da sala. Ufa, passei no primeiro teste, pelo menos minha feijoada está cheirando à feijoada, já é algum sinal positivo.

Encurtando a história, a feijoada ficou pronta, o arroz e as laranjas picadas. Tudo pronto para ser levado na escola, às 10 da manhã. Teria que ser às 10 mesmo porque aqui, quando falam que é para chegar às 10, eles querem dizer 10 mesmo, não 10:05. Mãe equilibrista aqui tem que ser pontual, além de saber cozinhar. Toda orgulhosa levei a feijoada e os acompanhamentos. Até concha e talheres para servir inclui na entrega.

Escrevo esse texto e nesse momento é pouco depois do meio dia. À essa altura eles devem estar comendo a feijoada. Meu Deus, como será que está? Sobreviverão aos meus dotes culinários ou mancharei a reputação da “marca” Brasil no exterior pelo uso indevido de seu ativo típico mais famoso, a feijoada? Será que perderei a cidadania brasileira? Estou ansiosa para meu filho chegar no fim do dia e contar qual é meu veredicto.

Ah, último detalhe – para dar um toque de Brasil, imprimi uma bandeira do Brasil e colei na face externa do caldeirão, identificando o prato (confiram na foto desse post). Além disso, para ser bem “correta”, inclui os ingredientes usados. Vai que algum americano tem alergia a cebola e eu sou processada! E para ser ainda mais “americana”, coloquei uma informação adicional: gluten free and dairy free! Nunca tinha olhado para uma feijoada desse jeito, sendo “free” de alguma coisa e me diverti muito com isso.

Bom, já devem ter percebido que não sou nada de cozinha, tenho poucos conhecimentos nesse espaço doméstico mas minha estada nos USA, além de me aprimorar nos meus estudos, está me fazendo praticar a culinária.


Não custa repetir: Não basta ser mãe brasileira nos USA, tem que fazer feijoada!

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Uma “palhinha” do novo livro

Amigas e amigos equilibristas,

foi com muito prazer que lancei em abril meu segundo livro: “Aprendiz de equilibrista: como ensinar os filhos a conciliar família e carreira”, pela Editora Évora. Será uma honra se vocês puderem lê-lo e enviar comentários!

E, para irem degustando um pouquinho, ai vai uma breve “palhinha” do que vão encontrar por lá! Espero que gostem.

Nossos filhos em 10  ideias

“Aprendiz de equilibrista” combina minha vivência com dois filhos somada a uma ampla pesquisa com 400 jovens e crianças. O livro traz muitas narrativas relacionadas ao presente e futuro de nossos filhos, mostrando um claro retrato de como essa geração vive e projeta sua vida futura. Aproveito esse espaço para trazer algumas dessas ideias, que de alguma forma, retratam o cotidiano de nossos filhos. Vamos a elas!

  1. Se dar bem!

Esse é o mote dessa geração, seu propósito de vida e causa maior. Se dar bem é ter uma padrão de vida razoável, uma família e se possível, algum sucesso e projeção. Não à toa celebridades são tão cultuadas. Algumas reunem o trinômio do desejo: bonitas, ricas e poderosas. Gisele Bundchen e Kaká estão aí para não me desmentir.

  1. “Eu tomo uma Coca-Cola, ela pensa em casamento”

Apesar dos projetos ambiciosos, essa é uma geração de compromissos mais tênues. Eles “ficam” mais do que namoram, eles mudam de marca mais facilmente, odeiam e amam uma mesma coisa em questão de dias.

  1. Quanto custa?

Sem nenhuma culpa, essa geração ama o capitalismo e o usufrui com todo prazer. Ter um novo videogame, uma nova boneca, um notebook, um celular…

  1. O mundo em 140 caracteres

Velocidade,  mundo em real time e concisão são demandas indiscutíveis de nossos filhos. Tudo para eles tem que ser na hora. Esperar é um tédio!

  1. Quantos amigos você tem?

Essa é uma geração que contabiliza amigos. Quantos amigos você tem no Facebook? Todo mundo é amigo de todo mundo, a conexão entre eles é enorme, mesmo que para nós aparentem ser conexões frágeis. Apenas para nós…

  1. Geração Windows

A vida deles é um eterno abrir janelas, todas ao mesmo tempo, sem fechar as anteriores. Fazem tudo ao mesmo tempo e conseguem ser assim! Assistem TV, ouvem IPod, fazem lição e ainda papeiam com amigos peloFacebook.

  1. E ai, tio, belê!

A diluição da hierarquia é absoluta. É uma geração extremamente informal que se relaciona com pais, professores e amigos da mesma forma. Sem cerimônias, sem formalidades: todo mundo é tiozinho, cara, mano ou profa.

  1. Geração Hiper

Tudo na vida deles é intenso e hiper – hiperconectados, hiperativos, hiperexpostos à tudo. Vivem hiperintensamente tudo e adoram isso.

  1. Precocidade

Crianças de 2 anos mexem em celulares melhor que os pais, garotas de 10 anos vão a baladas e adolescentes vivem como adultos. A precocidade está aí entre eles, para o bem e para o mal.

  1. Curtir a vida

Acima de tudo, curtir! Que venha o trabalho, a família, os filhos. Mas não me tire minhas horas de diversão, pelo amor de Deus! Isso é o que está na cabeça de nossos filhos, desde bem pequenos.

Gostando ou não desses pontos, certamente nossos filhos têm um pouco de cada uma dessas características, uns mais e outros menos. Não percebo nossos filhos como melhores ou piores do que a nossa geração. São certamente diferentes e nos desafiam a aprender, todos os dias, uma nova visão de mundo.  Bem vindos à geração de nossos filhos!