O retorno

O choro no meio da madrugada, os gastos com fraldas e a pilha de papinhas dentro do armário da cozinha. Os pais de primeira viagem, não acostumados à rotina de um bebê e que, até o presente momento, estavam “apenas” focados na carreira, podem ficar um pouco desnorteados no início.

Com esse parágrafo, o portal www.Administradores.com.br inicia uma reflexão sobre o retorno da mãe à vida profissional. Realmente esse período da volta é um ponto crítico de nossas vidas. Por um lado, queremos desesperadamente encontrar outras pessoas, sair da rotina peito-fralda-Hipoglós. Por outro lado, nossa alma está pregada em casa, juntinho do bebê. É animador pensar que participaremos de reuniões, encontraremos os colegas de trabalho e as divertidas conversas nos corredores. Mas como é desesperador deixar aquele ser tão pequenino sem estarmos pertinho deles. Ou será ao contrário, sem nós tendo-os por perto?

Esse sentimento ambíguo é muito verdadeiro e presente em todas nós. Na pesquisa que fiz para meu livro, mapeei os principais sentimentos desse retorno ao trabalho:

Ansiedade                 33%                                    

Alegria                        30%

Insegurança              25%

Conflito                       24%

Culpa                           22%

Angústia                      20%

Felicidade                   19%

Confiança                    13%

Esperança                   11%

Dúvida                         11%

É uma combinação de coisas boas com elementos bem doloridos. Só nos resta saber que, com o tempo, tudo entra nos eixos. Vale toda nossa atenção para escolher bem com quem o bebê ficará e acompanhar como nós e ele lidamos com esse momento de separação.

Mas, acreditem, no fim tudo dá certo!

Muita expectativa e nenhum modelo

[Adriano Echeverria]

O empresário Adriano, casado com Karla, grávida de 8 meses, fala de mudança e amadurecimento e de como pretende traçar seu novo papel: o de pai amoroso e presente.

“Sempre gostei muito de crianças, acho que o ambiente fica leve e divertido. E, como minha mãe me criou sozinha, não tive um modelo de pai – ela era pai e mãe, pois me levava até para o estádio ver jogo de futebol. Por esse motivo, além de querer ser um pai presente, vou descobrir o que é ser pai, pois não tenho nenhum modelo anterior. Cresci cercado de mulheres fortes, e acho que por isso também casei com uma!

Quando a Karla ficou grávida, antecipamos nosso casamento para maio – íamos casar no dia 20 de setembro, quando aconteceu o chá de bebê! Mas tenho uma filosofia de que por mais que você procure o momento ideal (para casar ou ter filhos), ele não existe. Minha mãe me criou solteira, sem o casamento ideal, mas isso não me prejudicou – o essencial é dar amor, dedicação, carinho. Claro que acho importante ter estabilidade emocional e financeira, mas isso não pode dificultar a decisão de ter um filho. A criança pode ser motivação para trabalhar mais. As pessoas mais estabilizadas que eu conheço, são as que têm família.

Tenho certeza de que a nossa vida vai mudar, mas não sei bem como ou o quanto. Existem tantas perguntas que faço para mim mesmo, que prefiro deixar acontecer. É interessante como minha família já está mobilizada, e já me aproximei mais das pessoas. As conversas são mais profundas, as coisas que penso já não são as mesmas de um ano atrás. Parece que os problemas ficam menores e que vejo menos prazer em coisas que via há pouco tempo, tem coisas que parecem ter ficado pequenas diante dessa expectativa da chegada do bebê.

Pelo fato de ser o primeiro filho, não quero perder nada desse momento, por isso vou com a Karla a cursos e palestras. Fui eu quem vi a entrevista da Cecília Troiano na Marília Gabriela, vi com ela a reprise, compramos o livro e fomos à livraria no bate-papo. Achei que o livro Vida de Equilibrista mostrou uma maneira muito moderna de encarar essa realidade com filhos, desmistifica esse papo meio demagógico, essa retórica de assistente social que não se encaixa na vida da gente. O livro e a entrevista foram um apoio muito bacana.

Mas me surpreendo a cada dia com a força que a Karla está tendo, nem imaginei que ela pudesse ter. Tem sentido muitas dores nas costas, mas está encarando com leveza. Ambos estamos tentando não racionalizar muito, não ficar buscando encontrar todas as respostas… pois se quisermos sanar todas as dúvidas, vai rolar estresse. Antes já tinha gente nascendo e crescendo sem teoria, é claro que a gente procura se informar, mas sem estresse.

Os filhos trazem compromisso e força e são motivo de amadurecimento. Claro que estou ansioso para exercer o papel de pai e ainda gosto e faço questão de ser o homem da casa, como principal provedor. Mas, com certeza, tudo o que eu puder fazer para ajudar a Karla nesta nova fase, farei. Em casa, quem cozinha sou eu, portanto acho que o tesão será maior ainda de cozinhar para o filho. Dividimos tudo nos afazeres de casa, e, como ela é empresária e eu também, as trocas são muito parecidas. Não vai haver problema se ela precisar trabalhar no sábado, pode deixar que eu fico com o bebê!

Adriano Echeverria é diretor de criação da Toro estratégia em comunicação e aguarda Bernardo para outubro. Leia o depoimento da Karla em um dos posts anteriores.

Um berço no escritório

A empresária Karla já faz planos para conciliar os cuidados com o filho e o dia-a-dia de negócios. Durante a gravidez, descobriu novas habilidades, como delegar mais no trabalho e confiar na capacidade de seus funcionários.

*foto: Marcelo Min

Abri minha empresa há cinco anos. Começou bem pequena, quando eu ainda morava com minha mãe: era um computador na casa dela! Antes trabalhei como administradora em outras empresas. Como no meu novo negócio tudo dependia de mim, trabalhei sempre muito, até que, de um ano para cá, formei uma boa equipe. Acho que, com 32 anos, busquei a estabilidade no trabalho antes de ter filhos.

Mas acabou tudo acontecendo por acaso – o fato de eu ter ficado grávida depois de conseguir montar uma equipe maior. Eu já morava junto com o Adriano há 3 anos e tinha marcado casamento para 20 de setembro, mas como engravidei no começo desse ano, antecipei o casamento. Acho que o bebê virá na hora perfeita e estamos muito felizes. Em julho do ano passado, minha mãe entrou como sócia na empresa, o que me dá mais tranqüilidade ainda.

Ser empresária tem suas vantagens, como levar o bebê junto para empresa em alguns períodos, já comprei até o berço para deixar na minha sala! O difícil é tirar licença-maternidade, pois não quero deixar o negócio, devo tirar uns 2 meses, não quero ficar muito tempo fora do trabalho, vou ficar sempre em contato. Mas pretendo voltar aos poucos.

Como é a primeira gravidez, me senti um pouco perdidinha, um pouco expectadora… Mas tenho minhas certezas: quero me dedicar ao meu filho, quero conciliar trabalho, filho, maternidade, marido. Não gostaria de virar dona de casa! Talvez tenha um pouco de insegurança diante de muita informação, desde coisas bobas, como o tipo de fralda certa, como o “dar conta de tudo”. Mas estou cercada de pessoas muito legais, tudo vai dar certo. Acho que a receita é equilibrar felicidade, insegurança, dúvida e levar tudo da melhor maneira possível.

Estou contratando uma pessoa, pois hoje moro num flat com serviços, mas quero alguém para me ajudar com as roupas, com a casa, com o bebê. Minha mãe trabalha e eu não gostaria de deixar com alguma avó, não quero misturar. Quero educar meu filho e as avós virão nos momento de curtir a criança.

Na empresa, comecei a delegar muito mais, tive que aprender a fazer isso e a confiar nas pessoas. Atualmente trabalho alguns períodos em casa, e não é só por conta da gravidez, foi proposital para quem está lá na empresa aprender a se virar sem mim. O escritório era muito dependente de mim, agora, a chegada do filho acabou sendo o empurrão que eu precisava para organizar todos os departamentos da empresa.

Não tem ninguém que eu conheça que tenha negócio e depois foi mãe. Por isso, o jeito que a Cecília Troiano lidou, pelo menos no livro, eu achei muito legal. Me enxergo um pouco nela, me inspiro nela, até por ser empresária. A decisão de contratar uma pessoa que não durma foi baseada no que ela disse no livro, que foi lido até pelo meu marido.

O Adriano é o máximo. Como eu acordo muito à noite, sem dormir e com dor nas costas, ele acorda junto comigo. Também me acompanha em todos os exames de pré-natal. Ele é empresário como eu – tem agência de publicidade – e pode conciliar melhor os horários. Atualmente tem chegado em casa mais cedo, até para ficar mais tempo junto comigo. É um companheirão. Tenho a sorte de ter um marido que curte ajudar. Acho que precisa mesmo ser cúmplice, pois os dois trabalham e são pais em pé de igualdade.

Karla Haidar é empresária, proprietária da Kapa+ EcoEmbalagem (www.kapamais.com.br), que faz embalagens naturais, e espera Bernardo para outubro.

Não é impressão: tudo mudou!

[Ana Dini]

Para a mulher de hoje, o trabalho é mais natural do que a maternidade. A grávida tem a auto-estima abalada e duvida da capacidade de ser mãe. Mas, junto com o novo bebê, nasce uma nova mulher: a chave é descobrir quem ela é!

As transformações ocorridas no “ser social mulher” não aconteceram do dia para noite. Ao longo dos tempos, o olhar sobre nós vem se modificando. Se antes era esperado que a menina crescesse e se tornasse mãe, como maior e mais sublime missão, hoje em dia a esperança está em quão boa profissional se tornará. Essa expectativa torna tudo diferente: com o foco na profissão, adiamos o momento de nos tornarmos mães e, mesmo para aquelas que não adiam, estar envolvida com o comprometimento social de ser bem sucedida no trabalho faz com que a maternidade pareça um pouco desajustada.

É com o sentimento de dúvida e de incerteza que damos o passo em direção à primeira gravidez. Mesmo querendo muito, nos perguntamos: será que essa é a melhor hora, mesmo? Antigamente esse conflito era zero. Nenhuma mulher se fazia essa pergunta, a gravidez simplesmente vinha porque era conseqüência de ser mulher. Agora podemos escolher quando é o melhor momento e até escolher por não querer, embora essa posição gere uma certa indisposição para algumas mulheres. A sociedade ainda não aceita com total naturalidade o fato de uma mulher não querer ser mãe.

Certo é que o comprometimento social com o trabalho gera também a necessidade emocional de trabalhar. Ainda no começo da gravidez, quando parece que tudo dentro de nós está parado, lento, e o cérebro parece não responder às nossas atividades diárias, vem aquele aperto e a dúvida: o que será de mim? Após esse primeiro período voltamos a ter o nosso próprio ritmo, mas a barriga começa a crescer e as roupas precisam ser trocadas, até que essa é uma parte boa – comprar uma roupinha nova ainda que seja para se adaptar a nova realidade.

Com a proximidade do nascimento, vamos nos dando conta de que a nossa cabeça está cada dia mais distante do trabalho e nos perguntamos: será que não serei mais a mesma, quando tudo isso acabar? Não mesmo!! Nunca mais. Depois que nos tornamos mães mudamos de condição, já disse isso.A nossa auto-estima, que antes da gravidez era boa e positiva, fica abalada. Não temos a menor experiência em gestar e muito menos em ser mães, teremos que começar do zero ou então recorrermos às nossas queridas mães, sogras ou amigas que já passaram por isso. E ainda assim, para cada uma, a história é única.

Decidir como fazer com a criança, dar conta de continuar a trabalhar, as dúvidas sobre ser uma boa mãe tanto quanto sou boa profissional, não há como lidar com todas essas questões sem se preocupar. Teremos de agora em diante um novo querer, precisaremos investir em nos conhecer um pouco mais para descobrir quem é essa nova mulher que até então esteve adormecida. Essa investigação e o empenho em resolver o enigma “quem sou eu agora?” é essencial para obtermos sucesso nessa nova vida.

Ana Dini é educadora, formada pela USP-SP, especialista em Educação Infantil. Há 18 anos atende crianças e pais em escolas de grande porte. Ministra o workshop “Como falar para o seu filho ouvir”. Contato: anapdini@hotmail.com