No Brasil ainda é raro, mas nos países europeus, especialmente os escandinavos, pais que gozam de licença-paternidade já são uma realidade, como mostra o jornal The New York Times, no caderno veiculado pela FSP em 28 de junho. Essa pode ser uma importante tendência para aliviar um pouco a sobrecarga sobre as mulheres. Ter pais mais presentes nos primeiros meses do bebê não só é de extrema ajuda para dividir as tarefas com a mãe como também um ganho e tanto para a relação afetiva desse pai com o filho.
Mas mesmo lá esse processo não se deu de um dia para o outro. Em 1974 a Suécia se tornou o primeiro país a aderir a licença-paternidade, mas poucos pais a tiravam. Mesmo com incentivos do governo, ainda em 1991 apenas 6% dos pais aderiam ao benefício. Lá como aqui perpetuava um círculo vicioso: as mulheres continuavam a tirar licença não só pela tradição mas também porque seu salário costumava ser menor e isso perpetuava (e ainda perpetua por aqui), a diferença salarial. Somente em 1995 o governo sueco decidiu tomar uma medida mais agressiva adotando uma lei que, caso o pai não gozasse do benefício, a família perderia um mês do subsídio ofertado pelo mesmo governo. E em 2002 uma cartada decisiva duplicou o tempo de afastamento dedicado aos homens – 2 meses. Tudo isso já trouxe para as famílias suecas claros sinais de mudança: o rendimento médio das mães aumentou em 7% para cada mês de licença que o pai tira! Na prática o que os casais tem praticado é dividir a licença entre o pai e a mãe, evitando que um dos pais assuma um papel dominante ou fique tempo demais afastado do emprego.
A Islândia, recentemente famosa pelo vulcão, foi ainda mais longe: três meses para a mãe, três meses para o pai e mais três meses para o casal dividir como quiser. A Alemanha em 2007 reservou 2 dos 14 meses de licença remunerada para os homens.
Enquanto isso, por aqui, as recentes iniciativas apenas aumentam o tempo de licença das mães para 6 meses, o que a meu ver é um equívoco. Dependemos cada vez mais de famílias que educam os filhos e dividem responsabilidades de forma cooperada. O modelo brasileiro de 6 meses apenas aumenta a sobrecarga sobre as mulheres e mesmo as dificuldades na carreira. Os cuidados com o bebê ficam sob regência inda mais acentuada das mães com esse modelo. Pais seguem ausentes e descompromissados com esse processo por esse modelo, mesmo que muitos mostrem-se bastante animados para dividir esse espaço.
Ainda por aqui é preciso muita batalha e revisão de modelos. Mas a inspiração escandinava está aí para nos animar!