Volta para casa 2

[Claudia Zacharias]

Sentei para conversar com meu futuro chefe e disse: “Estou cansada de ficar em casa cuidando de criança. Preciso voltar a trabalhar.” Dois anos depois, meu discurso mudou radicalmente: “Estou cansada de trabalhar, quero voltar para casa. Minhas filhas precisam de mim.”

Trabalhei por 12 anos na área comercial de seguros e parei uma semana antes da minha primeira filha nascer. Fiquei durante 5 anos em casa e só fui ter babá depois do nascimento da caçula. Quando ela tinha dois anos, em 2005, recomecei na área comercial de uma empresa multimídia, motivada por um bom salário e pelo desafio profissional.

Nessa época, as crianças iam para a escola à tarde, e eu penei durante quase um ano para conseguir uma empregada de confiança. Eu tinha duas, e, às vezes, não chegava nenhuma na segunda-feira cedo para eu poder ir trabalhar. Meu marido dava um jeito de ficar com as meninas até uma delas chegar.

No trabalho, eu só tinha horário para entrar e não para sair. Viajava muito e trabalhava nos feriados, acompanhando projetos de filmagens de simpósios médicos. Mesmo passando fora finais de semana, não tinha uma única folga de segunda a sexta. Minha rotina pesou, pois sou muito mamãe ursa e fazia questão de dar banho nas crianças, nem que fosse às 20 ou 21hs. Fora isso, sobrava tudo pra mim: as compras da casa, a organização, as crianças ligando pra dizer que tinham brigado com a empregada…  Era o estresse de casa somado ao estresse do trabalho.

Eu tinha prazer em trabalhar, mas fiquei balançada com a saída de uma grande amiga da empresa (para ser mãe do terceiro filho). Além disso, minha filha começou a ter muito trabalho de escola que exigia acesso à internet e não tinha quem a ajudasse. A empregada era boa, mas passava conceitos errados para as crianças. Também pensava que as meninas seriam crianças uma vez só na vida. Como eu poderia resgatar isso depois? Como apagar os erros dos outros? Nessa idade as crianças absorvem muito.

Então, em maio de 2007, meu marido montou uma empresa eu dei um basta no trabalho. Na verdade eu era boa de vendas, ganhei até uma viagem-prêmio na empresa. Sou competente, tenho garra, força de vontade, trabalho no que eu quiser. Agora estou parada há um ano e estou feliz.

Claro que existem coisas que chateiam. O lance da grana, por exemplo, ter que pedir para o marido coisas que eu já não pedia. No domingo à noite peço um cheque para o jardineiro, outro para a fantasia do balé das crianças… Ele fala: você está me assaltando. Na hora dá raiva isso, mas depois passa.

O pior é quando surgem as encucações de mãe: será que sou boa companhia para as minhas filhas? Dito regras o tempo todo, sou muito rígida. Educar não é uma tarefa light. Estou acertando? Mas são crises normais… Acho que agora elas estão mais manhosas e grudadas em mim, não querem que eu faça nada sozinha.  Meu dia ainda é corrido, pois tudo tem hora, as tardes são muito ocupadas com atividades delas. Não é porque a pessoa está em casa que não trabalha. É preciso administrar as provisões, a empregada, de tarde é um leva-e-traz.

Para mim, o ideal é a mulher trabalhar enquanto as crianças estão na escola. Mas quando eu sentir que elas não correm perigo, estiverem com os princípios enraizados, que não vão fazer a cabeça delas… volto ao trabalho sabendo que dei o melhor de mim para educá-las. Me acho privilegiada por poder me dedicar a elas. Sou bem resolvida e preciso estar bem comigo para estar bem com os outros, por isso vou à ginástica, me presenteio, me permito ser feliz!

Claudia Oppido Zacharias é mãe de duas meninas (de 8 e 5 anos).

Tempo precioso

[Mães equilibristas]

Ele parece elástico nos depoimentos.  Devido à sobrecarga de tarefas, a mulher se obriga a administrar os minutos para se sentir em controle da agenda. E a atenção que ela dá aos filhos, tira dela mesma… com algumas exceções.

1. Faço “to do lists” no celular: o que comprar na farmácia, o que perguntar para a pediatra (que não é urgente e pode esperar a próxima consulta), que livros quero ler (para lembrar quando passar em uma livraria) etc. 2. Delego as compras básicas de supermercado para minha “secretária”: ela faz a lista, vai no supermercado do bairro, escolhe as coisas, eles entregam e ela guarda tudo. Pra mim, só sobram as compras menores e mais gostosinhas de fazer. 3. Hora do almoço (durante a semana): sempre aproveito para comprar alguma coisa, resolver problemas, etc. 4. Tenho uma “linha direta” com a babá, via torpedo. Se precisa comprar alguma coisa, se acontece alguma coisa durante o dia, fico sabendo rapidamente. 5. Checo meus emails à noite, depois que a Luísa dorme. 6. Não falo no telefone quando estou com a Luísa em casa. E mesmo com “tudo isso” ainda está faltando tempo para mim! Renata, 1 filha, gerente de branding em São Paulo, SP.

“Sou psicóloga clínica, tenho 3 filhos, sou professora e escritora. Tenho, portanto, muitas funções. Além disso, toco em uma banda e faço dança. É sem dúvida o perfil de uma verdadeira equilibrista. Mas o que tenho aprendido nesses anos todos, é que administrar o tempo é, na verdade, mais que isso; é administrar a vida. E não dá para pensar que a vida é um item que cabe numa agenda. É preciso estar constantemente atento e refletindo o “como” se está usando o tempo e onde se está na lista de prioridades da vida. Trabalho e desempenho sem Eros são apenas tarefas. E depois de todas cumpridas, o que sobra? A estratégia é, antes, olhar para o que está sendo equilibrado e para quê.” Sylvia, 3 filhos, psicóloga, professora e escritora. 

“Costumo dizer que não uso relógio. Uso cronômetro!” Secretária do McDonald´s que assistiu a uma palestra da Cecília Troiano!

“Tenho a sorte de ter um trabalho de horários fixos, como professora, que me tomam 24 horas por semana e mais 6 adicionais flexíveis. Deixei em segundo plano a pesquisa científica de forma a ter mais tempo para me dedicar a meus filhos. Tenho muito trabalho a fazer em casa, entretanto. Procuro manter uma rotina fixa, chegando nos mesmos horários em casa e primeiro me preocupando com meus filhos. Quando meus filhos vão dormir às 19/ 19:30 tenho tempo para me dedicar ao meu trabalho propriamente dito. Meu marido ajuda bastante principalmente de manhã e no fim de semana, já que os horários dele não são tão flexíveis quanto os meus. Mesmo assim fico muitas vezes com a sensação de não estar fazendo o melhor possível tanto em termos de dedicação a eles quanto do meu trabalho (pesquisa). É necessário tentar equilibrar o melhor possível a tarefa materna e de trabalho. Isto implica na minha opinião em escolhas por um lado e perdas por outro lado. “Perder tempo” com as crianças é fundamental. Esta fase da vida é maravilhosa e exige amor, carinho e dedicação de fato (isto não significa que é necessário ficar com eles 24 horas por dia, pelo contrário é importante que haja também satisfação pessoal / no trabalho). Não é possível ser exemplar em tudo, mas sim tentar fazer o melhor possível com relação à tarefa materna e de trabalho.” Sonia , 2 filhos, professora universitária  em São Paulo, SP. 

“Minha vida de equilibrista começa às 6:30h da manhã quando reúno a turma (Rafael 3,5 anos e os gêmeos Gabriel e Henrique 7 meses) para levá-los à escola. Como passam o dia todo por lá, levo com eles uma “mudança” (roupas, papinha, leite, etc… pacote completo). Obviamente são várias “viagens” para descarregar o carro. Após deixá-los vou para a academia. Faço um programa de exercícios que não excede 40min, sendo bastante intenso, porém, curto. Vou para o trabalho, também com minha “mudança”, pois levo minhas refeições uma vez que tento não descuidar da minha alimentação. Trabalho contra o relógio o dia todo, minha agenda é bastante pesada. No final da tarde vou buscar meus filhos na escola. Quando chego em casa geralmente ainda tenho que finalizar algumas obrigações do trabalho preparando aulas, palestras ou mesmo trabalhando na minha tese de doutorado. Entre uma atividade e outra brinco com meus filhos. Depois que os coloco para dormir tenho algum (bem pouco) tempo para mim. Após o nascimento dos meus filhos  aprendi o quão precioso é o tempo, não desperdiço sequer 5 minutos com atividades improdutivas. Não assisto a programas que não sejam educativos e qualquer minuto livre eu aproveito para ler um livro. Para otimizar o tempo no trânsito fico escutando meu i-pod que contem alguns audiobooks (e-books) com o objetivo de treinar meu inglês e ao mesmo tempo aprender algo. Posso dizer que certamente a vida de equilibrista me trouxe importantes ganhos, dois em especial são a produtividade e a habilidade de amar incondicionalmente o próximo. Isso eu devo às crianças maravilhosas que são meus filhos.” Ana Paula, 3 filhos, médica de Ribeirão Preto, SP.

“Faço listas, listas e muitas listas. Com margem para imprevistos e ordem de prioridades! E guardo momentos em que só me concentro nas minhas duas pequenas. De modo que tento não misturar duas atividades simultâneas (será possível?). Uma atividade de cada vez, de forma concentrada (nem sempre dá certo, mas a gente tenta). Assim, sou capaz de passar mais de um mês sem depilar as pernas, duas semanas sem fazer unhas e remarcar um exame médico (meu, não delas, claro) três vezes. Por outro lado, vira e mexe sobra uma sábado inteirinho para rolar no quintal com elas (com a unha por fazer e a perna peluda, beleza!). Ordem de prioridade é meu lema. Os últimos ítens da lista, em geral, ficam para amanhã, semana que vem ou nunca. Mas eram os menos importantes mesmo. ”  Juliana, jornalista, dois empregos, duas filhas na creche das 10h às 18h30, uma ajudante doméstica das 10h30 às 20h, um marido gente fina que faz tudo mas chega quase às 20h em casa e trabalha todo sábado. Ah, sim: uma casa em São Paulo com quintal. Fundamental. 

“Eu divido meus horários de almoço em 3 dias almoçando com o marido e dando atenção só pra ele e 2 dias em casa na hora do almoço, para levar a Sofia (4 anos) até a van que vai pra escola e fazer o Bernardo (6 meses) dormir depois disso. À noite, depois que as crianças dormem, cuido de mim e da casa.” Karin, 2 filhos, Angra dos Reis, RJ.

“Procuro ser objetiva nas tarefas e na definição de prioridades. São várias as tarefas: meninas, casa, marido, trabalho e a minha vida pessoal. Dentro dessas obrigações diárias, tenho claro que as meninas são a prioridade número 1, entretanto tenho o trabalho como uma parte importante também. Por isso, no dia anterior procura refazer a agenda na minha cabeça e muitas vezes abrir mão de compromissos ou tarefas para o meu dia não virar uma correria. Um outro ponto importante é fazer o roteiro do dia, uma vez que o trânsito é uma variável determinante nos dias de hoje. O que também me ajuda muito é ter o outlook atualizado com os compromissos, e deixar sempre uma hora entre um compromisso e outro. Para driblar alguns imprevistos conto muito com as minhas irmãs que me ajudam muito, e todos têm os meus telefones para emergências.” Luciana, duas filhas, São Paulo, SP.

“Acordo todos os dias às 6:15, levo uma das minhas filhas na escola e vou para o trabalho. Quando posso, volto mais cedo nos dias que as crianças dormem na minha casa, faço a feira nas quintas bem cedo e vou ao sacolão na sexta.No sábado às 6:00 faço a meditação em grupo que eu adoro e no domingo pela manhã, gosto de ir ao culto e ouvir música no museu.Procuro aproveitar os intervalos livres no consultório  para estudar, nadar 2x por semana,fazer algum trabalho artístico/manual e quando consigo toco violão.Participo de um coral quinzenalmente e mensalmente participo de um círculo de mulheres aos sábados pela manhã.Quando tudo vai bem essa é a minha rotina mas, quando algum dos filhos fica doente…aí o bicho pega e acabo suspendendo tudo até que a rotina possa ser restabelecida.” Ana, 4 filhos, terapeuta em São Paulo, SP.
“Estabelecer prioridades: ensinando minha filha de 4 anos a fazer escolhas logo cedo. Mostrando que estas escolhas poderão refletir no futuro.E tentar fazer tudo com alegria, sem stress por mais que o dia a dia não ajude!” Adriana, 1 filha, assistente executiva em São Paulo, SP.

“Pra mim, a agenda do outlook é fundamental. Tento colocar os compromissos (todos) na agenda: consulta médica, aula, reuniões, aniversários, pagamento de contas, alguma outra tarefa especial e etc. No dia-dia da empresa, ao ler os e-mails, os que já estão resolvidos, movo para uma pasta específica, os q não estão permanecem na caixa de entrada. Em seguida, vou despachando-os e resolvendo-os por prioridade.Ultimamente, tenho tentado fazer home-office pelo menos uma vez por semana. Isso me garante um pouco mais de foco e concentração. Tenho menos interrupções.” Claudia, coordenadora de empresa de tecnologia em São Paulo, SP.

“Fazer logo as tarefas chatas, porém indispensáveis. Delegar pra quem confio. Não perder tempo com coisas que não trarão resultados concretos seja no curto, médio ou longo prazos. Isso serve tanto pra trabalho como para lazer, descanso (que tem enorme retorno!) e coisas do dia a dia. Faço listas de “to do”s semanais. Me ajudam a priorizar e é ótimo qdo chega o fim da semana e vc vê o quanto conseguiu “riscar” da sua lista!” Andrea, São Paulo, SP.

“Como o tempo está cada vez mais valioso, antes de qualquer coisa, eu penso em quais são minhas prioridades. Não só com relação às atividades do dia-a-dia, mas com relação a minha vida. Percebi que seria incoerente dedicar a maior parte do meu tempo ao trabalho se ele não é a coisa mais importante pra mim. Não tanto quanto cuidar de mim, curtir a casa e ficar com a minha família. Não pense que com isso não me realizo profissionalmente. A vantagem é que trabalho em casa e posso eu mesma administrar o meu tempo. Também não ganho rios de dinheiro e nem é minha pretensão ficar rica. Sigo a máxima “ter menos e viver mais”. Para administrar o tempo no dia-a-dia, sempre coloco no papel os afazeres do dia. A luta é tentar riscar todos os itens da lista. Às vezes consigo, quando não me distraio com outras coisas. Pela manhã, trabalho em casa no computador e quando tenho algo para fazer fora, deixo para a parte da tarde. Meus horários são bem flexíveis (sou jornalista e fotógrafa free lancer), há dias em que não tenho muito trabalho aí aproveito para ficar com a Maria Luisa. Mas todo santo dia, depois das 18h, começa meu expediente integral com ela. Até a hora de ela dormir. Daí aproveito para conversar com o marido, namorar um pouquinho, assistir TV, ler uma revista ou livro da pilha que só se acumula, ler os últimos e-mails e depois, cama.”  Alessandra, 1 filha, jornalista e fotógrafa em Curitiba, PR.  

“Administrar o tempo, hoje em dia, é uma arte! Todos os dias levo o Matheus para a escola, pois acho importante pelo menos um contato por dia com a escola, o que é muito proveitoso. Geralmente é neste momento que escutamos sobre o que se passa na escola e, se for o caso, depois buscar mais informações a respeito e analisar o andamento da educação do meu filho. Uma estratégia que uso é de o Matheus voltar com o transporte escolar pra casa. Se algum dia fico mais enrolada, peço também para levá-lo para a escola. Outra maneira de conseguir driblar o tempo escasso, é deixá-lo na escola no extensivo – o que faz o tempo render – faço durante o dia tudo o que não dá pra fazer com o Matheus por perto e quando ele chega, me dedico a ele com mais qualidade.” Fernanda, 1 filho, autônoma em São Paulo, SP.

“Bem, minha administração nem sempre funciona como o planejado. Portanto, acho que a regra número um é não ser tão rígida com fórmulas e agendas, porque para uma “administração com bom senso” é preciso muito jogo de cintura para fazer adaptações de última hora. Como sou jornalista autônoma, posso muitas vezes organizar meus horários para estar com eles e compensar no trabalho à noite, se for necessário. Em geral, as manhãs, bem cedo, são para mim. Ginástica ou caminhadas, que fazem um bem danado para a cabeça. Depois começa o leva-e-traz de criança para todas as 1001 atividades, uma tarefa compartilhada com meu marido, justiça seja feita. Uma delícia, claro, mas obrigação também. Almoçamos juntos antes de eles irem para a escola e, na parte da tarde, trabalho. Muitas vezes o trabalho tem que começar cedo, a rotina muda, mas essa é a forma que a casa funciona, de um modo geral.” Simone, 2 filhos, jornalista no Rio de Janeiro, RJ.

“Algumas das minhas estratégias: ouvir noticiário na CBN enquanto estou no trânsito de manhã; fazer a unha e massagem na hora do almoço durante a semana; fazer compras de presentes, livros, lembrançinhas e outras coisas pela internet; usar serviço de leva e traz do lava-rápido; pagar todas as contas pela internet; contar com a empregada para fazer a lista do que falta em casa; planejar bem cada dia, principalmente os dias mais fora da rotina; deixar o banho da cachorra agendado com o pet shop de 15 em 15 dias, com serviço leva e traz. E, principalmente, ter pensamento positivo, sempre acho que vai dar tudo certo no final!!!” Elke, 1 filho, gerente de marketing em indústria farmacêutica em Barueri, SP. 

“É assim que eu me vejo, sempre correndo atrás da agenda que não cumpri, da atenção que não dei à minha família como gostaria, dos compromissos aos quais faltei, dos telefonemas que não respondi, da palavra amiga que deixei de dizer na hora certa…hoje, depois de outro hoje, depois de outro ainda mais urgente hoje. E para quê?” Márcia Neder, diretora de redação da revista Claudia, no editorial da edição de outubro.

Para onde vamos, mesmo?

[Ana Dini]

Para driblar o tempo não há muito segredo: primeiro há que se organizar tudo e depois aprender a priorizar. À medida que temos uma rotina, esquecemos que estamos correndo contra o tempo e tudo passa a se encaixar.

Desse modo a correria deixa de ser questionada e passa a ser necessária.

Se é tão simples, porque parece que nunca estamos dando conta? Porque temos mania de perfeição, porque não queremos priorizar, acreditamos que temos e podemos dar conta de mais um pratinho, vivemos tendo imprevistos que nos tiram da nossa rotina como: a falta da empregada, a tosse que não cessa do nosso filho, uma lição de casa em forma de pesquisa para ontem, o trânsito que, detalhe, é um  imprevisto previsto, a internet que caiu bem na hora que eu ia efetuar o pagamento, o caixa do super mercado que não encontra o código do produto, a criança que não termina nunca de se trocar, que enrola pra comer, tem o relatório que precisa ser feito, o curso que deve ser concluído em duas semanas, antes que se comece o outro que já foi agendado pela empresa… enfim, a lista é interminável. Porque tudo ou quase tudo, para quem faz tanto, é complicador.

Como temos muitas frentes é inevitável que uma delas tenha um ou outro probleminha, entre em colapso, e que o nosso tempo sempre esteja sendo reorganizado em função dos nossos compromissos, que de rotineiros só tem acordar cedo e dormir muito tarde.

Vivemos então mergulhadas em um encadeamento de ações que para quem vê de longe parecem bem sem sentido. Corremos o tempo todo. E para onde? Com esse questionamento paramos.

Definir o objetivo da corrida é de suma importância para que se tenha mais tempo. Porque quando estabelecemos as nossas metas, mesmo que a contra gosto, temos que priorizar. Mas hoje em dia… isso está cada vez mais difícil.

Vivemos em um momento histórico em que as oportunidades são muitas, mas a falta de constância, as incertezas e o medo de não dar conta nos toma por inteiras. Diante deles só mesmo correndo sem saber pra onde, se eu parar não dou conta.

O chato disso tudo é que acabamos apressando a vida. A nossa e a de nossos filhos. Queremos que eles cresçam e isso está implícito quando dizemos: “Quanto mais cedo melhor!”

Quanto mais cedo ele for para a escola e ficar livre de estar em casa com uma pessoa que não lhe acrescente nada, quando mais cedo ele entrar em contato com outras crianças, quanto mais cedo ele andar, quanto mais cedo falar, quanto mais cedo aprender inglês… melhor! Ele ganha tempo.

Dizemos: “Como essas crianças estão espertas, já nascem sabendo mexer no computador, fazem tudo antes do tempo…” ai, delas se não forem assim. Como poderiam lidar com mães e pais que correm tanto?

A culpa não é nossa, desde que saibamos para onde vamos e para onde levamos os nossos filhos.

Ana Dini é pedagoga e mãe, ministra o workshop “Como falar para o seu filho ouvir”, anapdini@hotmail.com

Viver é urgente!

[Maggi Krause]

Estou há dias matutando acerca desse texto sobre o tempo. O assunto me encanta tanto que acaba até atrapalhando minhas idéias. Meu trabalho de conclusão de faculdade teve este tema e – filosofias à parte como tempo cíclico, finitude e outros conceitos profundos – a parte prática consistia em andar de metrô e observar os ritmos da metrópole.

Concluí que a percepção do tempo era diferente dependendo do bairro,  da rotina e das demandas pessoais e profissionais de cada um. Parte importante: na apresentação final, deixei claro que uma música agradável aos ouvidos parece mais rápida do que outra monótona, chata mesmo, sendo que as duas tinham a mesma duração objetiva (em minutos).

Naquela época eu era solteira, trabalhava de dia, estudava à noite e namorava no final de semana. Bons tempos aqueles! (me perdoem o trocadilho). E olha que já era uma correria danada. Data de fechamento, prazo de entrega, entrevista marcada e agenda apertada já faziam parte do meu vocabulário de recém-jornalista. E isso tudo permeado de deslocamentos e trânsito e minutos escorrendo feito água de chuva na calçada. Nada que outras equilibristas não tenham experimentado.

Se antes o tempo já parecia escasso, quem dirá depois da maternidade, quando as demandas dos filhos invadem aquelas 24 horas já espremidas de tantos compromissos.

Quem não se lembra de 20 minutos em cada peito, intervalo entre as mamadas, hora do suco, da papinha, do soninho. Hoje já estou em outra fase: hora de levantar e vestir roupa, minutos para escovar os dentes, tomar o leite, ir para a escola… ufa, e tudo isso sem perder a esportiva para que eles já não cresçam estressados!

De volta ao trabalho e ao computador, a lista no caderno parece enorme, impraticável mesmo. Tudo que é mais urgente vai sendo realizado primeiro…  mas, reparem, não é o  que dá mais prazer. Adoro roubar duas horas do dia para almoçar com uma amiga, não existe tempo mais bem empregado! Me concedo uma pausa no trabalho para acompanhar a lição de casa do Tiago ou tomar um picolé com ele na varanda. 

Incrível como os momentos de prazer (lembra daquela história da música que citei antes?) parecem passar muito rápido! E olhando para meu calendário de mesa aqui quase todo preenchido com compromissos: do dentista à entrevista, da reunião ao almoço, tento fazer um exercício a cada final de dia ou de semana: penso em todas as amigas que encontrei, nos e-mails significativos enviados (pessoais, claro), na caminhada com os meninos à padaria, na saída estratégica com o marido para o cinema ou para um lanche apenas. Momentos preciosos que tecem com carinho a teia da minha modesta existência.

E chego à conclusão de sempre: o tempo foge mesmo, já desisti de ter controle sobre ele. A única estratégia que resta é viver o tempo presente com o máximo de intensidade e de presença, ou seja, apegada ao momento, sem ficar remoendo o passado ou sonhando demais com o futuro. Se abrirmos alguns minutinhos diários para incluir aquilo que realmente importa para nós, o tempo (dessa vida) não será em vão.

Pra terminar essa confusão de idéias (não digam que não avisei…) vai aí um trecho de uma de minhas músicas preferidas do Alan Parsons Project: “Time keeps flowing like a river to the sea… till it´s gone forever, gone forever…”

Maggi é uma das equilibristas que se dá ao luxo de doar um tempo para planejar e montar este site!

Da ausência à dedicação

[Renata Costa]

Sempre contei com o suporte de minha mãe e minha sogra, que buscavam meus filhos na escola, davam almoço e levavam para a atividade da tarde. Depois do nascimento do nosso terceiro filho, o esquema começou a ficar pesado para elas. A babá ficava com o bebê e sobrava tudo dos mais velhos. Teria que contratar mais uma babá e um motorista para tirar esse compromisso delas. Além disso, as duas estavam tendo que educar, chamar a atenção, falar grosso, enfim, estavam fazendo o papel dos pais.
Vó precisa curtir, mimar, deixar que as crianças pulem na cama delas… Ambas precisavam voltar a ser só avós e meus filhos estavam mesmo sentindo falta da mãe. No início, achavam que eu não iria conseguir ficar direto com eles, pois sou meio brava, não tenho muita paciência, já saio gritando. Mas estou vivenciando um novo aprendizado, à noite sempre repasso o dia e avalio tudo o que fiz.

Trabalhei em agência de publicidade e depois, durante 10 anos, na área de marketing publicitário do grupo Meio & Mensagem. Nunca fui de ligar para casa 3 vezes por dia para saber como estavam as coisas, confiava totalmente nas avós, que levavam até no pediatra e no hospital, se fosse preciso. Eu não estava presente na rotina deles, chegava e estavam de banho tomado, jantados, só para colocar na cama. A mudança do trabalho para casa foi radical. Eu vim do mercado, não sabia nem brincar no chão. Fui me soltando aos poucos, até para desarrumar a casa eu tinha preconceito.

Mas optei por isso na hora certa. A Maria Eduarda, com a chegada do Leonardo, ficou mais carente. Além disso, vai entrar logo no 1º ano e acho bom estar por perto, pois ela precisa de incentivo e de reconhecimento para tudo o que faz. O Rafael, o mais velho, é bom aluno, nunca me deu trabalho com lição, mas em compensação é introspectivo, só com tempo e conversa para saber algo dele. Percebi que ele tinha uma sensação de que não podia contar comigo para nada, não ia à casa de amigos, pois eu não podia buscar, não dava para fazer lições em conjunto (a escola às vezes pede).

Agora me aproximei muito deles, busco todos os dias na escola, almoçamos juntos, levo nas atividades da tarde, brinco, cuido. Tenho uma empregada que cuida da casa e uma babá que dorme para me ajudar. Sinto alívio por poder acompanhar a evolução educacional deles. Mas achei que bastava eu voltar para casa e estaria tudo solucionado. Nada disso, os problemas continuam acontecendo, mesmo você estando perto. Só assim para perceber algumas coisas, como o fato da Duda ser o sanduíche (filha do meio) e achar que deveria conseguir fazer o mesmo que o mais velho faz e, além disso, ouvir de todos que o mais novo é uma gracinha. É um desafio, cada filho é diferente e tem outras necessidades.

Meu marido diz que se a gente pudesse, teria feito isso antes. Ele é muito paizão e achava que faltava mesmo esse cuidado de mãe. Tive o apoio dele em todos os sentidos. Estranho é que depois de ter parado de trabalhar, comecei a questionar minha própria carreira. Não consigo definir do que eu gostava realmente naquela rotina. Vou continuar de olho no mercado, mas acho que na minha área acontecem tantas inovações que quando você dá um tempo, está fora. Vou pesquisar áreas que não exigem tanta atualização. Mas, por enquanto, vou ficar alguns anos acompanhando os três e curtir essa experiência.

Renata Costa é publicitária, mãe de Rafael (8), Maria Eduarda (5) e Leonardo (2).