Retrato dos pais equilibristas

A revista Época deste final de semana saiu com uma matéria completa e sensível descrevendo a vida de alguns pais equilibristas aqui no Brasil. O ponta pé inicial da reportagem foi um estudo publicado pelo Boston College, universidade de Massachusetts, chamado O novo pai – Explorando a paternidade no contexto da carreira. Em geral, ele concluiu que os homens americanos sofrem mais para atender às cobranças em casa e no escritório.

Além de dar exemplos de pais que se desdobram ou até, como várias equilibristas(me incluo nessa), abriram mão da carreira tradicional e cortaram horas de trabalho para se dedicar aos filhos. Tem o exemplo do “dono de casa”, do pai divorciado, com dois filhos do primeiro casamento e um do segundo, do que largou o emprego como publicitário e foi trabalhar em casa e de outro que trabalha meio período. O bacana são gráficos com porcentagens que contam como eles dividem seu tempo durante o dia, ressaltando que alguns cuidam da casa e fazem comida.

No texto principal, sobressaem os temas que já comentamos por aqui: o jeito como a mulher considera o lado  profissional apenas parte de sua vida, a recente valorização da família pelo homem, o equilíbrio de homens e mulheres no mercado de trabalho (nos EUA elas são 55%, aqui somos 41,4% da mão de obra empregada). Claro, comentaram o número de horas gastas por homens e mulheres no trabalho doméstico (pra mulher sempre sobra bem mais) e a diferença gritante entre licença-maternidade e licença-paternidade.

Mas o mais interessante, a meu ver, são dois pontos que retratam uma dificuldade enfrentada pelas mulheres nessa transformação. Apesar de muito bem sucedidas em suas carreiras, elas não querem abrir mão do poder que têm em casa e, principalmente, com os filhos.  E um reflexo disso é que – incrível, comprovado na pesquisa americana! – elas subestimam a contribuição do marido dentro de casa. Será que também já não vimos este filme antes? Afinal as mulheres também saíram para o mercado de trabalho para se sentirem úteis e valorizadas. Na minha opinião, é o trabalho doméstico e também a dedicação integral ou semi-integral às crianças que andavam desvalorizados e agora vale revertermos este processo.

Vejam, no exemplo abaixo, se o discurso deste pai (copiado da matéria) não é totalmente compatível com o de qualquer equilibrista?

O engenheiro Fernando José Alves da Silva, de 46 anos, não abriu mão de estar com os filhos mesmo depois do fim de seu primeiro casamento, há nove anos. “Não há o que pague a alegria de encontrar meus filhos sorrindo, de curtir alguns momentos com eles”, diz Fernando. Pai de Andrezza, de 13 anos, e de Lucas, de 9, ele detém a guarda compartilhada das crianças e fica com elas semana sim, semana não. Fernando casou-se novamente há três anos e teve seu terceiro filho, Guilherme, hoje com 1 ano. Funcionário de uma refinaria em Duque de Caxias, ele mora na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Trabalha dez horas por dia, mas reserva o fim da tarde e a noite para estar com os filhos. “Quando dá, tento pegar na escola, faço lição de casa junto, levo o filho no futebol, tento brincar com eles, me desdobro ao máximo”, diz Fernando. Como sua rotina é muito pesada, nem sempre ele consegue. Já perdeu eventos na escola dos filhos por causa do trabalho. “Não posso parar de trabalhar, preciso pagar o colégio, as contas, o apartamento, manter o padrão de vida. Então preciso arranjar um jeito de equilibrar as coisas”, afirma Fernando. “É muito difícil combinar trabalho e família. Ficar tranquilo é o mais importante para conseguir conciliar.”

A solução que Fernando encontrou é a melhor saída para fugir de mais uma fonte de estresse. “A carga de cobrança em cima dos pais e da forma que eles cuidam dos filhos é uma barreira. Cada vez mais os pais estão perdidos com tantas recomendações e cobranças”, diz Rosa Macedo, da PUC-SP. “O caminho mais rápido para o descontrole é culpar-se e idealizar a forma de criar os filhos.”

Até mesmo a culpa então, começa a assolá-los… consequência direta dessa vida de equilibrista! Quem quiser ler a reportagem completa, basta acessar Filhos x trabalho. Só pra completar, foi meu marido, que é antenado e, na minha opinião, um ótimo pai equilibrista, quem me enviou o link por e-mail. [Maggi Krause]

Mulheres mais educadas, homens mais assustados

Será que homens aguentam ter mulheres parceiras que sejam mais poderosas do que eles? Será que os tempos estão mudando e isso já não abala tantos os homens? Será?

Uma análise do censo americano, publicada em 19 de janeiro deste ano no jornal The New York Times, mostra que mulheres que ganham mais que seus companheiros e têm papéis invertidos nas funções tradicionais do casal, encontram mais dificuldades em estabelecer uma relação afetiva duradoura.  O censo americano analisou mulheres entre 30 e 44 anos e constatou que muitos homens estão ficando atrás das mulheres em termos de formação educacional. Ou seja, as mais bem educadas conseguem posições de maior destaque nas empresas. Em contrapartida, aumentam suas dificuldades de encontrar parceiros que lidem bem com essa diferença.

Os números comprovam esse crescente descompasso. Em 1970, nos EUA, 28% das esposas tinham maridos que possuíam nível escolar mais elevado que elas e 20% eram casadas com homens menos educados.  Além disso, 4% dos maridos tinham mulheres que ganhavam mais do que eles.  Em 2007, os dados comparáveis mudam para 19% , 28% e 22%, respectivamente.

O que se vê então, pelo menos nos EUA: uma inversão bem clara apontando para mulheres ganhando mais do que homens, fruto de uma formação escolar superior.

Aterrissando no Brasil, hoje, nas universidades brasileiras a proporção de mulheres x homens é de aproximadamente 60% x 40%.  Ainda lutamos pela paridade salarial entre gêneros mas esse contingente maior de mulheres brasileiras educadas, fatalmente, pressionará cada vez mais nessa direção.

Não são poucos os exemplos de mulheres que conheço, superinteressantes e bem sucedidas, que encontram dificuldades para encontrar homens que “aguentem” conviver com elas.

Precisamos, urgentemente, discutir esse tema e buscar alternativas para que esse mal estar contemporâneo encontre uma solução adequada.

Muita expectativa e nenhum modelo

[Adriano Echeverria]

O empresário Adriano, casado com Karla, grávida de 8 meses, fala de mudança e amadurecimento e de como pretende traçar seu novo papel: o de pai amoroso e presente.

“Sempre gostei muito de crianças, acho que o ambiente fica leve e divertido. E, como minha mãe me criou sozinha, não tive um modelo de pai – ela era pai e mãe, pois me levava até para o estádio ver jogo de futebol. Por esse motivo, além de querer ser um pai presente, vou descobrir o que é ser pai, pois não tenho nenhum modelo anterior. Cresci cercado de mulheres fortes, e acho que por isso também casei com uma!

Quando a Karla ficou grávida, antecipamos nosso casamento para maio – íamos casar no dia 20 de setembro, quando aconteceu o chá de bebê! Mas tenho uma filosofia de que por mais que você procure o momento ideal (para casar ou ter filhos), ele não existe. Minha mãe me criou solteira, sem o casamento ideal, mas isso não me prejudicou – o essencial é dar amor, dedicação, carinho. Claro que acho importante ter estabilidade emocional e financeira, mas isso não pode dificultar a decisão de ter um filho. A criança pode ser motivação para trabalhar mais. As pessoas mais estabilizadas que eu conheço, são as que têm família.

Tenho certeza de que a nossa vida vai mudar, mas não sei bem como ou o quanto. Existem tantas perguntas que faço para mim mesmo, que prefiro deixar acontecer. É interessante como minha família já está mobilizada, e já me aproximei mais das pessoas. As conversas são mais profundas, as coisas que penso já não são as mesmas de um ano atrás. Parece que os problemas ficam menores e que vejo menos prazer em coisas que via há pouco tempo, tem coisas que parecem ter ficado pequenas diante dessa expectativa da chegada do bebê.

Pelo fato de ser o primeiro filho, não quero perder nada desse momento, por isso vou com a Karla a cursos e palestras. Fui eu quem vi a entrevista da Cecília Troiano na Marília Gabriela, vi com ela a reprise, compramos o livro e fomos à livraria no bate-papo. Achei que o livro Vida de Equilibrista mostrou uma maneira muito moderna de encarar essa realidade com filhos, desmistifica esse papo meio demagógico, essa retórica de assistente social que não se encaixa na vida da gente. O livro e a entrevista foram um apoio muito bacana.

Mas me surpreendo a cada dia com a força que a Karla está tendo, nem imaginei que ela pudesse ter. Tem sentido muitas dores nas costas, mas está encarando com leveza. Ambos estamos tentando não racionalizar muito, não ficar buscando encontrar todas as respostas… pois se quisermos sanar todas as dúvidas, vai rolar estresse. Antes já tinha gente nascendo e crescendo sem teoria, é claro que a gente procura se informar, mas sem estresse.

Os filhos trazem compromisso e força e são motivo de amadurecimento. Claro que estou ansioso para exercer o papel de pai e ainda gosto e faço questão de ser o homem da casa, como principal provedor. Mas, com certeza, tudo o que eu puder fazer para ajudar a Karla nesta nova fase, farei. Em casa, quem cozinha sou eu, portanto acho que o tesão será maior ainda de cozinhar para o filho. Dividimos tudo nos afazeres de casa, e, como ela é empresária e eu também, as trocas são muito parecidas. Não vai haver problema se ela precisar trabalhar no sábado, pode deixar que eu fico com o bebê!

Adriano Echeverria é diretor de criação da Toro estratégia em comunicação e aguarda Bernardo para outubro. Leia o depoimento da Karla em um dos posts anteriores.

Desequilíbrio possível

[Ruben Zonenschein]

A equação simplesmente não fecha. Não tem como dar conta de tudo. Filhos, o casal, a casa e tudo que envolve, se forem levados muito a sério, desembocam numa vida de equilibrista, cheia de tropeços e falhas. Tem momentos que é no trabalho que ficamos devendo, outras vezes é em casa, com um dos filhos ou entre o casal. O melhor, então, é simplesmente relaxar. Não se cobrar tanto, tentar preecher com bom humor e carinho o que as horas do dia não dão conta.

Eu e a Simone nunca estabelecemos uma divisão definida de tarefas. Sempre tentamos nos ajudar quando o outro está mais atarefado no trabalho. Às vezes, claro, um acaba se queixando que a semana está meio desequilibrada… Mas esse acerto de contas nunca foi zerado. Se bem que… acho que meu saldo está positivo. Tenho que repensar sobre isso.

A mágica está em não deixar a situação chegar ao ponto de me sentir um equilibrista. Já tentei fazer natação no mesmo horário deles (não deu certo, mas vai dar), ou vou na ioga no intervalo de pegar e levar um para as inúmeras aulas. O teatro do Tom, à noite, ficou encaixado no meio do meu grupo de coral (e ele fica pacientemente me esperando ouvindo os desafinados).

Mas posso repartir aqui as minhas idéias para recompor a equação:colocar um anúncio de vaga para motorista para o período da manhã e deixar claro para qualquer engraçadinho que oferecer um cachorro para meus filhos que a resposta é NÃO. Afinal, adivinha quem vai ter que passear com ele?

Ruben  Zonenschein é economista, pai de Tom e Paulo e marido de Simone, que escreve no blog esta semana.

Tem um bebê no escritório

[Eduardo Zambelli]

Há pouco mais de um ano, decidi que o excesso de trabalho e o estresse como diretor de criação de uma agência de design não cabiam mais na minha vida. Queria mudar de vez e investir na carreira, e a idéia era montar um escritório em casa. Na mesma semana em que pedi demissão, minha mulher descobriu que estava grávida! Depois da alegria da notícia, claro, cheguei a pensar em voltar atrás na decisão, mas ela me deu a maior força para virar a mesa.

Saí da agência, continuei a prestar serviço para eles e para outras agências, além de conseguir clientes diretos depois de um tempo. No apartamento, transformei um dos quartos em escritório, comprei bons equipamentos e montei uma estrutura de trabalho virtual que funciona muito bem para esse meu trabalho de criação e design. Estou tranqüilo com minha escolha e com meus ganhos, pois estou envolvido em muitos projetos.

O Matheus começou a dominar a rotina dos meus dias há apenas três semanas, quando a Simone voltou ao trabalho no banco, após o final da licença-maternidade. A sorte é que ela está podendo sair mais cedo para amamentar (às 19h30) e foi transferida para uma central administrativa mais perto de casa. Bom, eu já dava banho todos os dias e trocava o bebê, além de brincar, mas não tinha ficado, digamos, totalmente responsável por ele. Sente só o meu dia:

De manhã, o Matheus mama no peito às 7h e volta a dormir até as 9h30, que é quando me acorda. Aí pego ele no berço, troco, dou remédio, levo para a sala e deixo ele brincar um pouco. Às 11h dou mamadeira e aí ele dorme meia hora. É durante as sonecas dele que eu corro para o computador. Às 12h30, a Simone chega e almoçamos juntos, e, fatalmente, depois que ela vai embora, o Matheus dá uma choradinha e dorme mais meia hora. Quando acorda, deixo ele no chão brincando atrás de mim e sigo trabalhando. Às 15h ele mama de novo e dorme outra meia hora. No final da tarde é que fica mais difícil, pois ele quer bastante atenção e o trabalho fica muito picado. Às 18h30 a Simone chega e dá de mamar, eu dou o banho e depois de jantar e relaxar, volto para o computador e trabalho das 21h às 2h, geralmente.

Nas primeiras duas semanas, ainda sofri um pouco para me acostumar com a mudança e a interferência no trabalho, mas agora estou sentindo que consigo trabalhar cada vez mais. O Matheus é bem bonzinho e parece que também vai se acostumando a essa rotina que estabelecemos. Sinto que a maior vantagem é vê-lo crescer, acompanhar o seu desenvolvimento e observar as suas conquistas de perto. Isso é ótimo e não tem preço.

O ponto mais difícil é conciliar a atenção que ele precisa e conseguir trabalhar bastante. Existem os momentos tranqüilos e os de crise, com choro, normais para uma criança. Às vezes fico ainda na dúvida se vou precisar de alguém para me auxiliar o tempo todo ou se eu vou entrar em sintonia e conseguir dar conta de tudo sozinho. Quando você está em casa, mesmo trabalhando, acham que você está mais disponível. Criam-se expectativas extras, ou seja, sobram tarefas tipo “passa na farmácia, passa no supermercado”. Às vezes bate um desespero, pois os outros não têm noção de quanto trabalho eu tenho para entregar.

Em relação à carreira, é engraçado… por estar em casa, estou muito mais antenado do que eu era na empresa, acho que me cobro mais. Assinei todas as revistas e faço cursos on-line específicos da minha área. Estabeleço minhas metas e corro atrás delas. Sei que no exterior existem profissionais liberais que trabalham com muito sucesso e em estruturas montadas em casa.

Daqui a dois anos, quando chegar o próximo filho que já está nos planos, pode ser que eu precise alugar outro espaço. Mas minha meta ideal seria continuar trabalhando em casa, pois por enquanto nem penso em trocar essa rotina profissional somada à delícia de poder cuidar do meu filho.

Eduardo Zambelli é designer e pai de Matheus (5 meses e meio).

Pai moderno

[Jules Rimet]

É uma impressão. Talvez um dado empírico. Mais como um sentimento, vá lá. Tenho a sensação de que um filho (ou, no meu caso, uma filha) na vida de um homem melhora consideravelmente a qualidade de vida do homem.Claro que não estou falando aqui daqueles homens que “têm filhos”, e sim dos que criam seus filhos, dos que compartilham o crescimento deles, dos que estão presentes e vibram com cada balbucio diferente que a filha descobre.

Creio mesmo que o homem moderno é assim. No meu restrito círculo de amizades, os homens são assim. São quase pães, como diz o vocabulário popular; meio pais, meio mães. São homens que não se preocupam e demonstram a afetividade que têm por seu rebento em qualquer lugar. Homens que se vestem de mães quando vão passear com o filho (a filha, direi daqui por diante).

Outro dia mesmo, chegando atrasado numa reunião e com minha menina de um ano a tiracolo mais bolsa com água, fralda, lencinhos e roupas sobressalentes, uma amiga virou e falou: estávamos comentando que não tinha nenhum homem hoje, na reunião, quando você chegou e eu falei pras outras:e o único homem que veio, veio vestido de mãe.

É esse tipo de homem que eu acho que tem a qualidade de vida extremamente melhorada. Porque a filha causa isso. A presença e a carência da filha fazem o homem se sentir um super-homem. Ainda que nem todo super-homem seja superpai, sei que todo superpai é um super-homem. E não estou aqui puxando a sardinha pra brasa mais perto de mim. Estou querendo apenas compartilhar um sentimento que percebo há algum tempo, em mim e nos amigos superpais. Nem sei direito se essa sensação de superpai se aplicaria a mim. Claro que eu gostaria. Mas ao mesmo tempo há ainda o vazio de saber que há muito a fazer e tão pouco tempo ou que poderia ter feito mais ou melhor.

A mesma sensação eu li num livro que minha esposa comprou e que trata da vida de mães que se dividem entre o trabalho remunerado e o trabalho em casa, com filhos: vida de equilibrista. É o velho sentimento de frustração que ataca tantas mães que não conseguem conciliar os papéis. O livro revela que esse sentimento de frustração é resultado de uma cobrança por perfeição e, como a perfeição é inatingível, sobra angústia.

O que eu estou descobrindo é que essa angústia, essa mesma frustração, atinge também os pais. Não sei se isso se relaciona ao fato de que sou pai de uma menina e (dizem todos e eu comprovo) menina é muito ligada ao pai, mas o fato é que eu também padeço dessa frustração.

O engraçado é que durante toda a minha vida eu ouvi a história da ligação da mãe com os filhos, que ser mãe era padecer no paraíso, que mãe só tem uma, que mãe é o maior dos presentes, que é a mãe quem mais se liga aos filhos, etc, etc, e, por não ter um pai presente, achava que era isso mesmo. Não que eu esteja querendo diminuir o papel da mãe, mas um pai, pelo menos da forma como eu vivencio, traz as mesmas dores e delícias que sempre foram atribuídos às mães.

O mais recente tema do site será a culpa. E como pai se sente culpado! Mas é uma culpa saudável, ligada à vontade de estar mais presente na vida da filha, de pensar sobre o que ela aprendeu  durante o tempo em que o pai está no trabalho, de ter saudades de suas risadas e seu carinho.

Acho que vou viver mais meio século por causa de minha filha.

Jules Rimet é professor de história do sistema ANGLO de ensino, casado com Rachel, psicopedagoga, e pai de Ana Carolina. Escreve no blog http://imagina.blogspot.com

Uma semana para não esquecer

[Joåo Vítor Lourenço]

Podia ser apenas uma semana a mais na vida da minha filha e na minha. Podia ser apenas uma semana para acordar mais tarde, aproveitar a indolência das férias e ver os dias passarem. Mas não foi!

Tomei coragem e disse pra minha mulher: acho que vou passar uns 8 dias com a Marcela no Rio de Janeiro. Mesmo deixando pra trás os outros filhos com uma pontinha de inveja, na verdade bem mais que uma pontinha, lá fomos nós.

Carla, a minha mulher, gostou da idéia e deu a maior força.

Nessa ocasião, a Marcela tinha 10 anos e nunca havia posto os pés no Rio. E numa idade em que já era uma grande companhia sem ser ainda a adolescente que revira a cabeça com aquele insuportável olhar de tédio.

Resumo da ópera: foi simplesmente o máximo!

Primeiro, porque a Marcela e eu nunca havíamos passado uma semana juntos, grudados um no outro, sem mais ninguém da família ao redor. Segundo, porque redescobri com ela um Rio de que eu já havia me esquecido. Embora já tenha estado dezenas e dezenas de vezes por lá, o bondinho do Pão do Açúcar com a Marcela sobe diferente. O Jardim Botânico tinha árvores que eu nunca havia visto direito e olhos dela me ensinaram a ver. Em terceiro, e mais do que tudo isso, porque nunca o Rio foi tão bonito como com ela caminhando nas ondulações da calçada de Copacabana.

Se eu disser que fiquei morrendo de saudades da Carla e dos outros filhos é pura mentira. Saudadezinha de leve, apenas. Não havia muito espaço em meu coração para muita coisa mais do que a plenitude daqueles momentos com a Marcela.

O que ainda é mais bacana: depois de uma semana, o Rio ficou pra trás, mas não o “Rio” dentro nós dois. Uma conquista definitiva de pai e filha. Olhando pra dentro de mim, é como se eu pudesse cantar: “minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro”.

Recomendo a vocês todos um “Rio” por ano com os filhos.

João Vítor Lourenço é empresário e pai de Marcela, 15 anos.

Apoio na corda bamba

[Moraes Eggers]

Minha mulher tornou-se executiva ao mesmo tempo que recebíamos nosso filho em casa. Assumi a condição de “Pãe”, mistura de pai com mãe ou, até melhor, de “Babai”, um mix de babá com pai.

No ano passado, minha mulher, Cristina, foi contratada para o trabalho mais importante de sua vida: ser diretora na maior editora do país. É um cargo sonhado, a consagração de uma carreira. E ela sempre foi uma profissional competente, superpreparada e acima da média. Estamos juntos há 18 anos e sempre privilegiamos nossas carreiras. Além disso, como mulher e ótima esposa, ela sempre acalentou o desejo de ser mãe.

Por seis anos tentamos ter um bebê, sem sucesso. Como queríamos ser pais, partimos para a adoção. Por isso, quando me telefonaram do Fórum de Santo Amaro, em São Paulo, avisando que havia um bebê com 40 dias à nossa espera, tive a mesma sensação que, imagino, um pai deve ter ao saber que seu filho nasceu. Nosso filho havia nascido para nós! Liguei para a Cris e choramos juntos, tamanha a emoção e a alegria.

Cristina estava trabalhando havia menos de 20 dias, organizando um novo departamento e sua equipe. Em um cargo de confiança, em início de empreitada, por isso não poderia tirar os quatro meses de licença-maternidade. Não vacilei em deixá-la tranqüila para encarar seus novos desafios: o de ser executiva e o de ser mãe. Aproveitando o fato de estar trabalhando em casa, assumi a condição de “Pãe”, mistura de pai com mãe ou, até melhor, de “Babai”, um mix de babá com pai.

Há alguns anos, escrevi um livro com a biografia de John Lennon e nunca esqueci de um fato na vida do ex-Beatle que, durante os primeiros cinco anos de vida de seu segundo filho, Sean, abandonou tudo para se dedicar exclusivamente a ele. Ele e Yoko Ono haviam montado a Lenono, uma empresa para cuidar da carreira e dos negócios de John, como direitos autorais e coisas do tipo. Ela assumiu a direção, confessando que o lado maternal não era seu forte. John estava muito contente em passar todas “essas coisas chatas de números e negócios” para alguém em quem ele confiava. Ela passava o dia inteiro no andar térreo do Dakota, onde funcionava o escritório da Lenono. Ele se dedicava a criar o filho no 7° andar, contando com o auxílio de uma equipe de funcionários e domésticas.

Infelizmente, não tenho tanto dinheiro como Lennon tinha, mas, até hoje, ainda estou conseguindo conciliar meu trabalho (agora o de escrever livros) com os cuidados com o André, que está com 11 meses. A dura rotina corporativa da Cris faz com que ela fique fora quase o dia todo. Entra no trabalho por volta das 10h e retorna para casa lá pelas 20h30, 21h. Nossa empregada chega às 7h30 e vai embora às 16h30. Eu ajudo nas tarefas com o bebê também neste período, saindo para passear com ele e fazendo intervalos no trabalho para dar uma mamadeira ou papinha, trocar a fralda ou até mesmo brincar um pouco. Depois desse horário, assumo sozinho o controle até a festejada chegada da mamãe em casa.

Sou o responsável pelo seu banho e pela última mamadeira antes de ele dormir. Às vezes, a Cris ainda consegue chegar a tempo de fazer isso e curtir o filhote. Nos finais de semana, nos ajudamos para cumprir a rotina diária do André. E estamos vivendo muito felizes. Ser pai ou mãe é uma grande responsabilidade, que deve ser assumida de forma incontestável. Incluindo nisso o fato de que se tem de abrir mão de uma série de coisas. A prioridade passa a ser outra, diante de um ser que precisa de todo cuidado, carinho e amor.

O apoio de um para o outro e para nosso filho é fundamental para que possamos viver normalmente e criá-lo da forma mais correta possível, sem carências ou traumas. E acho que isso é que dá forças para que ela continue desempenhando bem seu papel no trabalho e mesmo em casa.

Assim como no caso da carreira profissional, em que percorremos uma trajetória dura, às vezes sofrida, para se alcançar o sucesso no futuro, também a maternidade e a paternidade exigem um preparo ao longo dos anos de nossas vidas para que possamos ser dignos de nossos cargos de diretores de uma nova vida. E ver nosso filho crescer forte e saudável, na corda bamba do dia-a-dia, certamente, é o melhor “salário” que podemos ter!

Moraes Eggers, 46 anos, é jornalista e escritor.

Vida de empresária: uma reflexão

[Ricardo Longo]

Minha mulher, a Chri, é uma micro-empresária. Abriu sua empresa há pouco mais de um ano, quando a Dora estava com 1 ano e 3 meses (hoje ela tem 2 anos e meio).

Trata-se do “Lugar de Arte – Atelier Infantil” (www.lugardearte.com.br), um local voltado para o desenvolvimento de crianças por meio da expressão artística. E está indo muito bem.

Além do sonho antigo de ter o próprio negócio, num ramo – educação – que ela domina amplamente e tem prazer em trabalhar, pesou na decisão a idéia de que não sendo funcionária de alguma empresa, ela teria mais liberdade para fazer seus próprios horários e ditar seu próprio ritmo. Desta forma, pensava, teria mais tempo para si, assim como poderia exercer com mais facilidade seus outros papéis, de mãe e esposa.

Nesses 15 meses de existência do Lugar de Arte, tiro para mim dois aprendizados, que tenho a oportunidade de compartilhar com vocês agora:

1. Sim, é verdade que a maior liberdade de horários existe e realmente facilita em alguns momentos – como quando a Dora fica uma semana doente e não há aquele “mal estar com o chefe” por chegar um pouco mais tarde ao trabalho todos os dias e talvez até faltar uma manhã toda. Ou na sexta-feira à tarde, quando é possível decidir ir para a praia logo após o almoço. Além disso, lógico, também é ótimo poder decidir os rumos da sua empresa, sentir a realização de ver o seu próprio negócio crescendo etc.

2. Por outro lado, pude comprovar na prática algo que já sabia na teoria mas não achava ser tão marcante: ser empresária significa trabalhar mais e sob mais pressão do que como funcionária. Trata-se de algo difícil de compreender sem a vivência própria, mas a verdade é que o envolvimento é sempre muito maior.

Mas por que é assim? Tenho algumas suposições:

Penso que, normalmente, quando trabalha-se “para alguém”, a gente faz parte de uma engrenagem, de um sistema que funciona à nossa volta, e as atribuições e responsabilidades são mais bem definidas. Além disso, outra pessoa (não nós mesmos) cria expectativas sobre nós que podemos ou não conseguir alcançar.

Quando se é empresário, além de exercer uma função específica na empresa, a gente é responsável por todas as engrenagens. Somos também responsáveis por criar expectativas sobre nós mesmos e saber dosar a auto-cobrança. E ainda por cima o retorno financeiro não é garantido, portanto o risco é maior.

A Chri, por exemplo, exerce a função “fulltime” de coordenadora pedagógica do Lugar de Arte, mas além disso é também responsável por:

  • decisões de investimento e trabalhar para conseguir o retorno
  • gestão estratégica do negócio
  • aquisição e manutenção de clientes
  • gestão de pessoas
  • controle de custos
  • gerenciamento da imagem da marca

São muitas as noites em que eu a vejo no computador até mais tarde escrevendo relatórios, enviando e-mails, analisando currículos, pesquisando coisas na Internet, acessando o site do banco, fazendo contas, preparando materiais de divulgação, preparando materiais para reuniões com pais ou com suas professoras e por aí vai…

Todos esses fatores, na minha visão, tendem a aumentar muito o sentimento de culpa que normalmente já ronda a cabeça das equilibristas. Sendo empresária, é necessário saber lidar ainda melhor com isso.

Por exemplo, quando a decisão sobre os horários e a rotina de trabalho é sua, estar ausente do marido e dos filhos é responsabilidade própria. Por outro lado, privilegiar a família, ou a si mesma, em detrimento da empresa também aumenta a culpa de não estar se dedicando ao máximo pelo sucesso do negócio.

E o maridão, como se encaixa nessa história?

Do meu lado, tento ajudar o máximo que posso com a empresa e, modéstia à parte, acho que ajudo bastante. Ajudei a construir o site (www.lugardearte.com.br), preparo planilhas financeiras, lido com o contador, dou orientações sobre como lidar com fornecedores, instalo coisas na parede, lido com o empreiteiro que faz as reformas etc. Tudo logicamente no ramo mais “administrativo”, pois no lado pedagógico ela é craque.

Ajudo também com a Dora em momentos em que ela precisa trabalhar fora do horário (fins de semana por exemplo) e tento também fazê-la aceitar melhor o fato de que ser empresária significa mais trabalho e mais responsabilidades.

Finalizando:

Portanto o meu recado para equilibristas que já são empresárias ou que estão pensando em tomar a decisão de abrir um negócio, é:

A escolha pelo papel de empresária deverá ser baseada, logicamente, na oportunidade e viabilidade do negócio e, principalmente, na satisfação profissional e pessoal que um empreendimento próprio pode vir a trazer. E só. Não tenham a ilusão de que isto torna, ou tornará algum dia, a tarefa de equilibrista mais simples. Ao contrário, trata-se de um conjunto extra de pratos para equilibrar.

Não quero que pareça, de forma alguma, que estou desencorajando ninguém a iniciar-se (ou continuar) na condição de empresária. Amo minha mulher também por seu lado profissional; pela sua coragem e capacidade empreendedora.

Apenas convido à reflexão sincera e verdadeira sobre os motivos e expectativas desta possível intenção. Ter um negócio próprio deve ser encarado muito mais como um desafio gratificante e não como um “atalho” para facilitar a Vida de Equilibrista.

OBS – Ricardo é marido da Christina, entrevistada para o assunto Mães Empresárias (veja tags).

Carinho sim, grude não

[Sergio Spalter]

Claro que eu gostaria de ter uma licença-paternidade, principalmente sendo pai do terceiro filho e tendo que administrar várias situações novas após a chegada dele!

Mas, se eu pudesse realmente escolher, daria a minha parte da licença para a Natália, que é quem de fato tem acordado várias vezes à noite para cuidar dele e, por ser autônoma como eu, precisou voltar precocemente ao trabalho.

Dizem que na Suécia a mãe tem dois anos de licença e o pai um.Eu ficaria feliz com dois meses. Mais do que isso, dá um pouco de medo de acostumar. Sou pediatra e sempre vejo o suplício que é para as mães, principalmente no primeiro filho, terem que voltar ao trabalho.

Quanto mais perto do dia da volta, mais grudada a mãe fica com a criança. Isso também não é bom…

Claro que é natural pensar na criança, no fato de ficar longe dela, do sofrimento que isso pode gerar. Mas o sofrimento sempre é maior na mãe, que além de exausta, fica culpadíssima e esgotada. Não precisa ser assim. Ficar um pouco longe de casa é até saudável. E a criança precisa de um pouco de espaço, senão sufoca! Tudo é uma questão de equilíbrio. O importante, eu acho, é não sofrer a toa.

Sergio Spalter é médico pediatra, pai de Aninha, Alice e Alex e escreve em 3 blogs! www.drspalter.com